O texto é breve, apenas cinco versos, porém, esses cinco versículos revelam uma característica de Jesus que sempre chamou a atenção: sua solicitude pela vida e a formação dos discípulos, a sua humanidade bondosa e amorosa para com o povo pobre da Galileia, a sua ternura para com as pessoas. Se o texto nos convida a refletir sobre esses aspectos da atuação de Jesus é para nos encorajar a ter esse mesmo comportamento de Jesus em nossa relação com as pessoas.
A passagem de Marcos 6,30-34 narra um momento-chave no ministério de Jesus, em que Ele e seus discípulos experimentam intensa atividade e precisam de um tempo de descanso e reflexão.
Antes dessa passagem, Marcos relata como Jesus enviou seus discípulos dois a dois para pregar, ensinar e curar em seu nome (cf. Mc 6,7-13). O relato então inclui a execução de João Batista (cf. Mc 6,14-29) e a narrativa da multiplicação dos pães e peixes (cf. Mc 6,30-44). Esse último milagre, que ocorreu em um lugar remoto e isolado, mostra o poder e a compaixão de Jesus para com as multidões famintas.
O povo estava em situação de opressão e ofendido em sua dignidade. Tinha que pagar muitos impostos e também tinha que cumprir o dízimo para o templo. A situação econômica era crítica. A sociedade estava cada vez mais dividida, tentando encontrar uma solução para os problemas do momento: alguns acreditavam na força das armas, outros se isolavam e viviam de forma independente. Por outro lado, a religião estava repleta de leis de purificação até se tornar um simples cumprimento de regras. Diante de toda essa situação, o povo estava desorientado e desnorteado, esperando por um Messias que pusesse fim a essa situação, livrasse-o e o trouxesse de volta a Deus. Jesus é a presença de Deus nesse momento.
Muitos marginalizados do templo por não cumprirem as normas rituais de purificação quando ouvem Jesus falar sentem-se identificados com o seu ensinamento e prática, descobrem que não estão tão longe dos caminhos de Deus, encontram nele o pastor que em vez de dispersar, reúne.
No versículo 30, os discípulos retornam a Jesus e o informam sobre tudo o que fizeram e ensinaram. Esse momento é importante porque reflete a importância do descanso e da reflexão no ministério. Até Jesus, na sua humanidade, compreendeu a necessidade de se retirar para descansar e renovar as suas forças.
Apesar de seu desejo de se retirar para um lugar tranquilo, Jesus e seus discípulos encontram-se cercados pela multidão. Em vez de rejeitá-los ou ignorá-los, Jesus os vê “como ovelhas sem pastor” e movido pela compaixão (em grego ἐσπλαγχνίσθη) muda seu plano e atende as pessoas. Esse versículo destaca a compaixão e o amor de Jesus pelas pessoas necessitadas e sua disposição de colocar as necessidades dos outros acima das suas.
No versículo 34, Marcos usa a metáfora do pastor para descrever o ministério de Jesus. Ele é o bom pastor que cuida e guia o seu rebanho. Essa imagem reflete a preocupação de Jesus com o bem-estar espiritual e físico das pessoas e sua disposição de oferecer orientação e direção.
Marcos reconhece que Jesus, movido pela compaixão ao ver a multidão que andava como ovelhas sem pastor, começa a ensinar. É a causa do Reino que consome seu tempo e sua vida. É por isso que Ele veio, sua paixão é o Reino. Somente quem caminhou na vida motivado por uma causa entende essas atitudes de Jesus e não sente fome ou cansaço de fazer o que gosta e motiva.
Jesus não sabia olhar para ninguém com indiferença. Ele não podia ver as pessoas sofrendo, era algo além de suas forças. Foi assim que foi lembrado pelas primeiras gerações cristãs, mas, os evangelistas dizem outra coisa, Jesus não se comove apenas com as pessoas concretas que encontra no seu caminho, os doentes que o procuram, os indesejáveis que se aproximam dele, as crianças que ninguém abraça; Ele sente compaixão por todas as pessoas que vivem desorientadas e não têm ninguém para guiá-las e alimentá-las. Ainda há muitas, muitas “ovelhas sem pastor” entre nós. O que podemos fazer?