Maria, Mãe de Deus e nossa!

A grandeza do mistério da maternidade divina de Maria e da sua maternidade espiritual como mãe da Igreja tem sua fundamentação nas Sagradas Escrituras. Na “plenitude dos tempos” (Gl 4,4) se realizou por obra do Espírito Santo o mistério da encarnação do Filho de Deus no seio da Virgem Maria (cf. Jo 3,16; Gl 4,4s; Lc 1,34s; Mt 1,18-20s). O Evangelho de São Lucas apresenta o encontro das duas primas grávidas; Isabel, sob o impulso do Espírito Santo, declara a Maria: “Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar?” (Lc 1,43). Em outros Evangelhos ela é chamada “a mãe de Jesus” (Jo 2,1; Jo 19,25). 

“A Santa Igreja celebra com júbilo, no dia primeiro do ano, a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. Por ser mãe de Deus, a Virgem tem uma dignidade de certo modo infinita, devido ao bem infinito que é Deus. E nessa linha não se pode imaginar uma dignidade maior, como não se pode imaginar nada maior que Deus”, afirma São Tomás de Aquino (Suma teológica, I, q. 25, a. 6, ad). A Santíssima Virgem é, com razão, venerada pelos católicos com o culto especial (hiperdulia). Ela mesma declarou que “Todas as gerações me hão de proclamar bem-aventurada” (Lc 1,48).

O título “Mãe de Deus” foi confirmado pelo magistério da Igreja, assim diz o Catecismo da Igreja Católica: “Com efeito, aquele que Ela concebeu como homem por obra do Espírito Santo, e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne, não é outro senão o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é, verdadeiramente, Mãe de Deus (Theotókos)” (495).

A alegria desse primeiro dogma mariano espalha-se entre todos os católicos ao redor do mundo. Segundo o Papa Bento XVI (2008), o dogma confirmou a devoção do povo cristão que ocorria desde o século III, com esse título “foi solenemente confirmada, por um lado, a unidade das duas naturezas, a divina e a humana, na pessoa do Filho de Deus e, por outro, a legitimidade da atribuição à Virgem do título de Theotókos, Mãe de Deus”.

O título “Mãe de Deus” é atribuído oficialmente a Maria no século V; ele foi proclamado como resposta às heresias e questões relativas à pessoa de Jesus Cristo, pois alguns negavam que Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Dessa forma, o 3º Concílio Ecumênico, reunido em Éfeso em 431, confessou que “Maria se tornou, com toda a verdade, mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio”. Já o Catecismo da Igreja Católica diz que “Mãe de Deus não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divina, mas porque dela recebeu o corpo sagrado, dotado duma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne” (466).

Esse espetacular feito do Espírito Santo em sua Igreja causou maior impulso à devoção mariana. Avançaram as construções e várias igrejas dedicadas à mãe de Deus, dentre elas a belíssima Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. Posteriormente, o Concílio de Calcedônia (451) confirmou esse dogma com a declaração de Cristo: “Verdadeiro Deus e verdadeiro homem, nascido de Maria Virgem e Mãe de Deus, na sua humanidade, para nós e para a nossa salvação”. Nos tempos atuais, o Concílio Vaticano II reafirmou a doutrina sobre a maternidade divina de Maria, na Constituição Dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium, no capítulo oito com o tema “A Bem-aventurada Virgem, Mãe de Deus, no mistério de Cristo e da Igreja”, como nos disse o Papa Bento XVI (homilia, 15 de setembro de 2008).

O saudoso Papa João Paulo II destacou a harmonia do plano divino em relação ao papel de Maria realizado na ação salvífica do Espírito Santo, como mãe de Deus e nossa. No Calvário, as palavras que Jesus dirige à mãe e ao discípulo predileto são “Mulher, eis aí o teu filho” (Jo 19,26); no Espírito Santo, o Salvador pede à mãe o consentimento ao sacrifício do Filho para se tornar a mãe de uma multidão de filhos. A essa suprema oferta da sua Mãe, Jesus assegura um fruto imenso: Maria recebe uma nova maternidade destinada a alcançar a todos os homens. Assim, em audiência-geral, explicou o Pontífice: “O dom da mãe universal estava incluído na missão redentora do Messias: ‘Depois, Jesus, sabendo que tudo estava consumado…’, escreve o Evangelista após a dupla declaração, “Mulher, eis aí o teu filho” e “Eis aí a tua mãe” (ibid., 19,26-28). No mistério da encarnação, sua cooperação com o Espírito tinha desempenhado um papel essencial; também no mistério do nascimento e da formação dos filhos de Deus, o concurso materno de Maria acompanha a atividade do Espírito Santo” (1998, 3l).

Ao concluir essa meditação, ouça as palavras do anjo a José como dirigidas a você: “Não temas receber Maria (…); o que nela foi gerado vem do Espírito Santo” (Mt 1,20). 

Sim! Não tema receber Maria, ela é verdadeiramente mãe de Deus e nossa por obra do Espírito Santo. Deixe a mãe de Deus gerar e formar um ser humano novo renascido pelo Espírito Santo. Juntos proclamemos: “Viva a mãe de Deus e Nossa!”.

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