MATEUS 16,1-28

O capítulo apresenta momentos importantes da vida de Jesus e de seus seguidores. Os discípulos são alertados sobre o perigo do fermento dos fariseus e saduceus com o qual poderiam se contaminar, vivenciando uma religião hipócrita, com grave ruptura entre fé e vida.

O texto reflete o momento da comunidade mateana que tem necessidade de maior clareza sobre a identidade de Jesus. Os membros, acostumados com a prática religiosa de rituais de sacrifícios que não comprometia a transformação da realidade, incorriam no risco de um debilitado seguimento.

Em relação ao Messias, algumas imagens circulavam entre o povo, cuja chegada era ansiosamente aguardada. Esperava-se que por intermédio dele atuaria o poder grandioso do Senhor que esmaga os inimigos com mão forte, como outrora sucedera aos egípcios (cf. Dt 26,8).

Na busca de levar os discípulos à maturidade da fé, no caminho Jesus lhes pergunta: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” (v. 13). Estavam em Cesareia de Filipe, localizada ao norte de Israel. Essa indicação geográfica é importante por se tratar de um lugar onde o culto ao imperador era forte. O sistema imperial tem sua ideologia, ameaças e perseguições que colocam a fé em risco.

Após apresentarem o que o povo pensava, Jesus dirige uma enfática pergunta aos discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (v. 15). Na voz de Pedro estão todos que ao longo do tempo professam com a fala e a vida: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (v. 16).

Jesus é reconhecido e professado como o Messias (em hebraico) Cristo (em grego), o Ungido.

Ele é o enviado do Pai para libertar a toda a humanidade. Messias que age não segundo os senhores deste mundo e sim com a ternura do Deus apaixonado por suas criaturas: o ser humano.

O Deus cultuado no templo era excludente. A profissão de fé em Jesus como Messias (Cristo) compromete a denunciar profeticamente todo e qualquer sistema que gera violência e morte, contrariando o projeto da vida abundante para os pequeninos: homens, mulheres, jovens, crianças.

Jesus diz que Pedro é bem-aventurado: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no Céu” (v. 17). Na profissão de fé robusta é edificada a Igreja: “Por isso eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e o poder do inferno nunca poderá vencê-la” (v. 18). Nenhum fermento lhe fará mal. A fé deve ser firme como a rocha capaz de resistir, vencedora em todas as situações por mais desafiantes que sejam. Jesus é o modelo, o caminho a seguir.

A caminho, Jesus faz o primeiro anúncio da paixão (vv. 21-23). Os discípulos têm dificuldade em acolher um messianismo tão humano, não glorioso. Infelizmente, ainda persiste a ideia de exaltar a grandiosidade divina. Esperam-se sinais grandiosos, estupendos. Acredita-se que esses, sim, seriam a resposta de Deus. A ausência de tais sinais traz decepção. Assim, corre-se o risco de realizar um seguimento ameno, um tanto frouxo. Jesus repreende dizendo a Pedro: “Afasta-te [vai para trás] de mim, Satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!” (v. 23).

A Pedro são dadas “as chaves dos Reino dos Céus”. O programa de vida dos seguidores e seguidoras de Jesus se baseia nas bem-aventuranças (cf. Mt 5,1-12). Elas abrem portas, caminhos novos antes fechados nesta realidade marcada por escandalosa desigualdade, inaceitável violência.

Os cristãos de ontem e hoje necessitamos todos de muito cuidado, ter consciência do perigo do fermento farisaico praticando uma religiosidade de puro ritualismo, rigorismo, intimismo, individualismo, indiferente ao sofrimento das pessoas e do risco de permanecer com um conhecimento muito superficial da pessoa de Jesus e sua missão.

O discípulo e a discípula são chamados a empenharem-se pela causa do Reino que se encontra em processo na realidade histórica estabelecendo a fraternidade, a justiça, eliminando, efetivamente, o maldito fermento da corrupção e da injustiça. Jesus segue presente por meio do testemunho de quem teve a vida transformada pela experiência do Ressuscitado e a coloca a serviço do Reino.

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