O FURÚNCULO AINDA ESTÁ VERDE

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Logo depois do almoço, saí da casa paroquial para visitar uma pessoa de nossa comunidade que, durante dois meses, havia se dedicado às obras de pintura de nosso santuário. Ele mora numa chácara, em contato com a natureza, além de ser sócio de uma empresa de sua família. Depois de conhecer parte de seu trabalho naquele lugar, percebi sua dedicação e carinho com tudo o que possui.

Por volta das quatro da tarde fomos tomar um café no seu escritório, construído em formato de quiosque. Na mesa, muita coisa saborosa da roça: queijo fresco, goiabada cascão, bolo de milho, pão caseiro, leite, café e manteiga. Estávamos descontraídos, sorrindo e partilhando nossas experiências. Surgiu um assunto sobre como resolver problemas e conflitos que algumas vezes existem na comunidade, na família e em nossa vida pessoal, então, ele usou uma expressão que ainda não conhecia: “Existe a hora certa para cada coisa. Minha mãe me ensinou que nunca devemos espremer um furúnculo ainda verde. Na hora em que ele fica maduro, a pele se rompe e o pus vaza, começando a sarar normalmente”.

Depois dessa visita tão rica de aprendizados, pesquisei sobre isso. Encontrei um artigo do doutor Dráuzio Varella explicando o que é um furúnculo e como agir nesse caso de infecção de pele. Percebi que a ciência concordava com a sabedoria popular da mãe do meu amigo. No texto, o médico descreveu o furúnculo como “uma infecção de pele caracterizada por um nódulo avermelhado, endurecido e quente, com uma área amarelada na parte central indicativa de pus. O tamanho varia segundo a profundidade dos tecidos infectados. A lesão surge especialmente nas regiões com pelos e mais expostas à umidade, pressão e atrito, ou a substâncias gordurosas que facilitam a obstrução dos folículos pilosos. Face, pescoço, costas e axilas são as áreas mais vulneráveis. Em geral, a evolução do quadro é benigna, mas podem ocorrer complicações, especialmente quando eles são manipulados sem o devido cuidado. Jamais esprema um furúnculo. A dor vai desaparecer quando a pele que recobre o nódulo se romper espontânea ou cirurgicamente, eliminando o pus e o tecido necrosado. Findo o processo de cicatrização, uma mancha escura aparece no local da infecção”.

A vida nos ensina que, em muitos momentos, somos tentados a apertar um furúnculo ainda “verde”, uma situação que demanda discernimento, paciência, misericórdia e tempo.

As coisas nem sempre são simples. Existem problemas que não devemos resolver no calor das emoções, precipitadamente, por impulso, sem ao menos dobrar os joelhos e pedir orientação para alguém de nossa confiança ou mesmo ficar em silêncio.

Uma pessoa que amamos tanto nos ensina a importância do silêncio interior quando passamos por tribulações e dores, a Virgem Maria. Lembra-se de suas palavras e seu gesto quando, acompanhada de José, encontrou Jesus no templo de Jerusalém depois de procurá-lo por três dias? Seguem as palavras do Senhor: “‘Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição’. Respondeu-lhes Ele: ‘Por que me procurá­veis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?’. Eles, porém, não compreen­deram o que Ele lhes dissera. Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas essas coisas no seu coração” (Lc 2,48-51).

Neste mês de agosto, peçamos a intercessão de Nossa Senhora da Assunção. Que ela leve nossas orações ao coração misericordioso de seu Filho, livrando-nos da tentação de apertar um “furúnculo” que nos faz sofrer, mas que ainda está verde!

Editorial

Produção Editoral feita em parceria com a Agência Minha Paróquia

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