Neste ano, através do Evangelho de Marcos, as comunidades cristãs são convidadas a refletir e aprofundar sobre os ensinamentos de Jesus, conforme registrados por Marcos. Neste texto de Marcos 6,1-6, depois do ensinamento em parábolas e da atuação milagrosa ao redor do lago da Galileia, Jesus retorna à sua terra. O povo de Nazaré fica espantado com seus ensinamentos e começa a questionar sua identidade. Eles olham na direção equivocada para a resposta, e seu espanto termina em escândalo e incompreensão. Assim se conclui a segunda etapa do ministério de Jesus na Galileia.
Na história, os profetas são pessoas que, movidas por Deus, em determinados momentos se tornam a consciência de seu povo. Compreendendo dessa forma, verifica-se que todo cristão é chamado a ser profeta, ou seja, a pensar e viver a vida segundo os ensinamentos de Jesus e seu Evangelho.
Jesus, depois de ter ensinado em parábolas e realizar alguns milagres, retorna à sua terra natal: Nazaré. Exercendo o direito de todo israelita adulto do sexo masculino, Jesus entra na sinagoga no sábado para ler e comentar as Escrituras. Os habitantes de Nazaré ficam atônitos: “Donde lhe vem isso? Que sabedoria é essa que lhe foi dada, e como se operam por suas mãos tão grandes milagres?” (cf. Mc 6,2). Inicialmente, pode ser uma reação normal. Porém, na rapidez de encontrar uma resposta, enganam-se: “Não é este o filho do carpinteiro?” O espanto termina, assim, em escândalo e incompreensão, porque não percebem a Deus que se revela nas coisas cotidianas, recusam-se a aceitar que se manifeste no filho de um humilde carpinteiro. Olham, mas não veem; ouvem, mas não compreendem (cf. Mc 4,12). Os discípulos acompanham o Mestre nesses momentos e aprendem uma importante lição: onde se espera encontrar encorajamento, coragem, participação, pode-se apresentar indiferença, incompreensão e rejeição.
Na mente deles, Jesus não tinha poder cultural, não era um intelectual educado. Nem era sacerdote do templo, nem membro de uma família importante. Ele era um “trabalhador” de uma pequena aldeia na Galileia. E, precisamente por ser conhecido, os seus conterrâneos pensam que ele não tem autoridade para falar: Ele é “um de nós”, não pode “ensinar” com “sabedoria”. É por isso que é motivo de escândalo, de tropeço. Mas muitas pessoas o viam como um mestre que ensinava a entender e viver a vida de forma diferente, porém, ser algo mais que isso?
Jesus anuncia a vontade de Deus, de um Deus que se revela como Pai. Jesus pode falar em nome de Deus porque está unido a Ele. Como os profetas, Jesus ensina os caminhos de Deus, muitas vezes rejeitado pelos seres humanos e, como os profetas, Jesus é muitas vezes rejeitado e sua vida é direcionada para a cruz. É característico do Evangelho de Marcos apresentar o aparente fracasso, a solidão, o escândalo da cruz de Jesus. Mas, o Pai está com Ele. Essa cruz é compartilhada com Ele por todos os perseguidos por causa de seu nome, como a comunidade de Marcos. Deus Pai o ressuscita, validando a sua Palavra e a sua Vida.
A atenção é necessária na vida de fé. Pode ocorrer de não se reconhecer e compreender a passagem de Deus em nossa história e de seus profetas. Por vezes esperamos coisas extraordinárias e espetaculares, ou olhamos para alguém de fora como um profeta, mas não para aquele que podemos ter ao nosso lado, os muitos irmãos e irmãs que gastam e se desgastam trabalhando para os outros, mesmo que isso lhes custe a vida. É muito mais maravilhoso olhar para os milagres que os pregadores anunciam na televisão do que aceitar o sinal de solidariedade e fraternidade que está ao nosso lado todos os dias. É muito mais rápido querer buscar um estilo de vida fácil, cômodo do que ouvir o chamado de Deus para semear vida e esperança todos os dias. Tudo isso será mais fácil, porém não deixaremos Jesus passar sem reconhecê-lo e sem perceber sua presença ao nosso lado? As pessoas por vezes fazem uma imagem de Deus que não é verdadeira, e quando Ele não responde ao que se acredita que Ele deveria ser, em seguida O abandonam, colocando o precioso valor e dom da fé de lado.