O TEMPO DA QUARESMA VIVENCIADO EM FAMÍLIA

Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave-Maria, começo nossa reflexão mensal de fevereiro, propondo o tempo da quaresma como sinal de recomeço e esperança, vivenciados, pelas famílias cristãs.

O Evangelho nos indica os elementos nesse novo percurso espiritual: a oração, o jejum e a esmola. Estes três elementos exigem a necessidade de não nos deixarmos dominar pelas aparências: o que conta não é a aparência; o valor da vida não depende da aprovação dos outros nem do sucesso, mas daquilo que temos dentro de nós. Sendo assim, é preciso tomar a atitude de Jesus que “viu Simão e André, seu irmão” (Mc 1,16) muitos de nós e de nossas famílias nos relacionamos com as pessoas por imagens, ou seja, enxergamos muitas pessoas, todavia, vemos muito pouco o nosso irmão ou irmã.  

O primeiro proposito é a oração. A oração de todo cristão católico tem duas ações, a primeira o relacionamento com Deus, portanto, verticalizada. Assim como, a oração comunitária, ou seja, quando rezamos uns pelos outros, portanto, uma oração horizontalizada. Não é diferente com as famílias, na debilidade e fragilidade de nossas famílias, podemos dirigir-nos a Deus com confiança filial e entrar em comunhão com Ele. Diante de tantas feridas que nos angustiam e que poderiam tornar o nosso coração insensível, somos chamados a mergulhar no mar da oração, que é o oceano do Amor ilimitado de Deus, para saborear a sua ternura. A Quaresma é tempo de oração, de uma prece mais intensa, mais prolongada, mais assídua e mais capaz de nos tornar responsáveis pelas necessidades dos irmãos; prece de intercessão, a fim de rogar a Deus por tantas situações de pobreza e de sofrimento.

O segundo proposito qualificador do caminho quaresmal é o jejum. Devemos estar atentos a não praticar um jejum formal, ou que na verdade nos “sacia” porque nos faz sentir bons ou que alivia nossa consciência. O jejum só tem sentido se atingir a nossa vida familiar sem ganância e vivida na sobriedade, mas também se beneficiar o nosso próximo, se nos ajudar a cultivar o estilo do bom Samaritano, que se inclina sobre o irmão em dificuldade cuidando dele. O jejum comporta a escolha de uma vida sóbria, segundo o seu estilo; uma existência que não desperdiça, uma vida que não “descarta”. Jejuar ajuda-nos a treinar o coração para a essencialidade e a partilha. É um sinal de tomada de consciência e de responsabilidade perante as injustiças e os abusos, especialmente em relação aos pobres e aos mais pequeninos; é sinal da confiança que depositamos em Deus e na sua Providência.

Terceiro proposito, a esmola ou caridade: ela indica a gratuidade, porque na esmola damos a alguém de quem nada esperamos receber em troca. A gratuidade deveria ser uma das características do cristão que, consciente de ter recebido tudo de Deus gratuitamente, ou seja, sem qualquer mérito, aprende também a doar aos outros de modo gratuito. Hoje muitas vezes a gratuidade não faz parte da vida diária de uma família, onde tudo se vende e tudo se compra. Tudo é cálculo e medida. A esmola ajuda-nos a viver a gratuidade do dom entre nossos irmãos, que é liberdade da opressão da posse, do medo de perder aquilo que possuímos, da tristeza de quem não quer compartilhar o seu bem-estar com o próximo.

Com os seus convites à conversão, providencialmente, a Quaresma desperta-nos, acorda-nos do sono e do risco de irmos em frente por inércia, levados pelo vento, numa vida sem motivação e sem objetivos. Provocando a destruição das famílias cristãs que foram perdendo esses propósitos, sobretudo, no nível comunitário familiar.  

A exortação que o Senhor nos dirige neste tempo através do profeta Joel é vigorosa e clara: “Voltai para mim com todo o vosso coração” (Joel 2, 12). 

Sempre temos necessidade de mudar, de fazer uma transformação, e isto chama-se “precisar de conversão”. Ponhamo-nos a caminho com esta confiança filial e busquemos praticar esses propósitos dentro de nossas famílias.

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