Jesus conta a parábola de um rei (cf. Mt 22,1-14) que prepara um grande banquete para celebrar o casamento de seu filho e convida pessoas de honra. Nenhum dos convidados quis comparecer, mas, o banquete estava preparado. Então o rei convidou os excluídos da sociedade e o salão ficou cheio.
O significado da parábola fica claro quando lida em seu contexto. Ela segue imediatamente a outra parábola do Reino (cf. Mt 21,33-43) e faz parte de uma discussão dos chefes dos sacerdotes e fariseus com Jesus sobre sua missão e autoridade (cf. Mt 21,23-46). Na parábola anterior, a parábola da vinha (cf. Mt 20,1-16), Jesus resume a história da salvação. Deus cercou Israel com atenção especial e esperava que tanto cuidado produzisse frutos em uma vida de fidelidade e retidão. De tempos em tempos, Ele enviava profetas para lembrar o povo do fruto que esperava, mas, a missão dos profetas era sempre recebida com a rejeição de Israel. Finalmente, Deus enviou o próprio Filho, mas, Ele foi morto. Nesse ponto, Jesus declara que, como Israel continuou a rejeitar o Reino, ele passará para outro povo, ou seja, para os pagãos (não judeus). Essa frase oferece a leitura-chave para a parábola.
Para entender o significado da parábola é necessário reconstruir o cenário social ao qual ela se refere. Em primeiro lugar, trata-se de um banquete. As refeições tinham uma função social importante: a importância de uma pessoa podia muito bem ser medida pelas pessoas que frequentavam sua mesa. Os banquetes também eram um meio de fortalecer os laços, de afirmar alianças e relacionamentos. Em ocasiões muito especiais, como o casamento de um filho, tomava-se o cuidado de convidar pessoas importantes, pois a presença delas ajudava a aumentar a honra da família. Recusar um convite desse tipo era quase impensável e uma ofensa séria para a parte que convidava. Assim, o rei se enfureceu e convidou todos que encontrou nas estradas, pessoas que nunca teriam se sentado à mesa de um rei. Essa parábola é consistente com um fato importante na vida de Jesus: Ele comia com pecadores e cobradores de impostos. A parábola também fala da rejeição de sua mensagem pelos líderes do povo e das boas-vindas dadas a Ele pelos excluídos: pecadores, prostitutas etc. Os primeiros cristãos viram nessa parábola a explicação de uma nova circunstância; as Boas-Novas foram mais bem recebidas pelos pagãos.
O relato de Mateus parece ter reunido duas parábolas, a parábola dos convidados e a parábola daquele que veio sem veste nupcial. Sem dúvida são parábolas sobre a convocação para o Reino. Os convidados que não eram dignos se referem aos líderes do povo, que associavam à sua posição social o conhecimento da lei. Eles tinham “campos”, “negócios”, interesses que colocavam acima do chamado para o Reino. Além disso, maltratavam os servos. Certamente, “os convidados não eram dignos” (Mt 22,8), mas os destinatários deviam ser procurados em outros lugares da sociedade: “Ide às encruzilhadas e convidai para as bodas todos quantos achardes” (Mt 22,9). Esses são os lugares onde os pobres e despossuídos devem ser encontrados.
O Evangelho de Lucas, no texto paralelo, diz “Trazei aqui os pobres e os aleijados, os cegos e os coxos” (Lc 14,21). Eles são os destinatários históricos da ação messiânica. Mateus acrescenta que nas estradas eles encontraram “os maus e os bons”, nessa ordem, para deixar claro que ninguém é chamado por seus méritos, mas, pelo amor gratuito de Deus. A gratuidade faz com que os “não convidados”, os pobres e pecadores, sejam os destinatários de seu banquete e do Reino.
A vocação cristã não é uma garantia mágica de salvação! Nos anos 80, nas comunidades de Mateus, havia pessoas que acreditavam que só pelo fato de terem aceitado o convite do Evangelho, recebido o Batismo e entrado para a Igreja já tinham a entrada garantida no Céu. Essa falsa segurança desencorajava o esforço de fidelidade a Jesus. Para tirar as comunidades de sua letargia, Mateus completou o texto da parábola original com outra (Mt 22,11-14). Não é suficiente dizer “sim” ao chamado para participar do Reino, é necessária uma prática fiel de obediência à vontade de Deus manifestada em Jesus, o Filho amado. Há espaço para todos, mas, uma vez lá dentro, é necessário andar vestido com a prática da justiça e da misericórdia. É isso que Mateus quer simbolizar com as vestes nupciais; caso contrário, a sentença do julgamento final é a exclusão do Reino. É por isso que Mateus conclui: “Porque muitos são os chamados, e poucos os escolhidos” (Mt 22,14).