A palavra “Emaús”, em hebraico חמת (Hammat) e em grego Ἐμμαούς, vem a significar “riacho quente” ou “banhos quentes”.
Lucas apresenta Jesus interpretando as Escrituras junto aos dois discípulos a caminho de Emaús, indicando a maneira como os membros da comunidade cristã faziam uso da Bíblia. Alguns passos importantes no processo de interpretação das Escrituras a seguir.
A realidade (Lc 24,13-24): os dois amigos estão em situação de medo e desorientação. Estão se distanciando de Jerusalém, lugar onde a violência, a cruz, as forças da morte atingiram a esperança deles. Assim Jesus os encontra. Aproxima-se e caminha com eles, ouvindo-os em sua angústia, e os indaga: “O que ides conversando pelo caminho?” (24,17). A resposta parte do pensamento e sentimento de que tudo havia terminado. A forma como veem o acontecido os impede de entender: “Nós esperávamos que ele fosse libertar Israel, mas (…)” (24,21). O que acreditavam até então e esperavam é que Jesus, o Profeta de Deus, seria poderoso e grande vitorioso sobre os inimigos do povo de Deus, o Império Romano. A cruz foi o fim de toda a esperança.
Leitura do texto (Lc 24,25-27): Jesus os ensina a se aprofundar na Palavra, que possibilita compreender sua pessoa e missão. Mostrando tudo o que disseram os profetas, Ele ilumina o pensar e sentir dos dois amigos, fazendo-os superar a reduzida visão que os fazia sofrer tanto. Com o auxílio da Bíblia, Jesus faz com que compreendam e acolham o projeto do Senhor. Deus é o Deus da história. Diferentemente dos doutores da lei e escribas que pensavam tudo saber, Jesus partilha a Palavra como um peregrino-companheiro que ajuda os amigos a se lembrarem do que haviam esquecido: Moisés e os profetas.
Mostrando tudo que se refere a Ele na Bíblia, ilumina o problema que afligia seus dois amigos e depois clarifica a situação que eles vivenciavam. Jesus coloca os dois discípulos no projeto de Deus e os faz ver que tudo está em suas mãos.
Os discípulos são chamados a superar a ideia de um Messias poderoso, triunfante, nacionalista (24,19.21) e crer no Messias que, aparentemente derrotado, vítima de injustos poderes políticos e religiosos, é o verdadeiro vencedor e está na glória (24,26). Na cruz que era instrumento de tortura e morte é revelada a força da vida em Jesus que chega a todos.
As primeiras comunidades, iluminadas pela Palavra, superaram momentos de crise descobrindo e renovando a fé em Jesus ressuscitado, que fortalece o caminhar.
Celebrar em comunidade (24,28-32): “Fica conosco (…)” (24,29). Após a iluminação, mediante a Palavra que faz arder o coração (24,32) e na partilha do pão, momento e gesto comunitário, os olhos se abrem e se reconhece a presença de Jesus. Nessa ceia, Jesus realiza os mesmos gestos que fizera na Última Ceia pascal (22,19): toma o pão, abençoa-o, parte-o e entrega-o. Nesse momento, os discípulos o reconhecem. Vivem em profundidade a experiência do Ressuscitado. Ele desaparece. Não está mais fisicamente com eles, porém, sua força e vida os animam. Renascidos, retomam o caminho de volta a Jerusalém, o mesmo caminho que antes os levava a se distanciarem. Sabem que não estão sozinhos. Jesus está vivo na comunidade orante, em que a fraternidade fortalece os laços. Com a força do Ressuscitado se tornam testemunhas e construtores do Reino (24,33-35).
Algo novo acontece em meio àquela situação de caos. Desperta a consciência crítica que supera o fatalismo do poder que gera morte. Em lugar da notícia de morte, a Boa-Nova da ressurreição.
Tanto ontem como hoje, o coração inquieto questiona: onde é possível encontrar Jesus? E a resposta é: na comunidade, sob a guia da Palavra e na partilha do pão, a Eucaristia.
O que pode ser feito: aproximar-se das pessoas, ouvir suas realidades e dificuldades e fazer perguntas com o sentido de aprofundar a reflexão que ajuda a olhar a realidade com um olhar mais crítico e esperançoso, cheio de fé.