Contemplando a vida de Jesus, que passou pelo mundo fazendo o bem (cf. At 10,38), notamos que os doentes ocupam um lugar muito especial em sua missão salvadora. O Filho de Deus leva saúde a todas as pessoas, relaciona-se com a totalidade de seu ser, promove encontros transformadores, penetra o mais profundo de cada coração e desperta neles a força curadora do amor. Jesus, ao dizer ao doente “a tua fé de curou” (Mc 10,52), coloca-o como agente participativo do milagre: a cura vem de dentro da pessoa. É Deus que, por meio da fé, age no mais íntimo de cada coração e realiza o que tanto esperamos.
O modo de agir de Jesus é inspirador para nossas ações de cuidado. Lidar com a dor e o sofrimento do outro exige, de quem cuida, compaixão! É preciso estar revestido de um amor que não é apenas humano, é a própria presença do amor de Deus que, agindo em nós e por meio de nós, realiza grandes milagres na vida das pessoas. Essa espiritualidade nos permite ir ao encontro do outro e reconhecer nele um espaço sagrado onde se deve entrar com muito respeito e veneração.
São Camilo, patrono dos doentes, hospitais e profissionais da saúde, fez a experiência do amor de Deus em sua vida e, pleno desse amor, comunicou-o com gestos concretos junto aos doentes. Orientado pelas palavras de Jesus – “Estive enfermo e me visitastes” (Mt 25,36) –, desenvolveu uma espiritualidade que o permitiu ver no doente a presença do próprio Senhor.
O patrono dos doentes, mesmo limitado por suas doenças, não desanimava, buscava forças em Deus para aliviar as dores e os sofrimentos de seus irmãos. Ensinando que mesmo feridos podemos ajudar no processo de cura uns dos outros, oferecia um serviço de excelência corporal e espiritual àqueles que não podiam lhe oferecer nenhuma recompensa. São Camilo fazia de suas ações uma liturgia, ensinando a nós que há uma profunda conexão entre o serviço prestado ao doente e o culto a Deus. Com o mesmo respeito e dedicação com que cuidava das feridas dos pacientes em seu leito, também cuidava de Jesus eucarístico sobre o altar.
Nós, profissionais da área da saúde, temos muitas vidas em nossas mãos, todas são preciosas e é somente com a graça de Deus que conseguiremos exercer bem nossa missão. Devemos resgatar a sacralidade e a dignidade de cada pessoa, garantindo o que lhe é de direito. Dessa forma, compreendemos que pequenos gestos como chamar o paciente por seu nome, cumprimentá-lo, ouvi-lo são essenciais para que se estabeleça empatia, confiança e serenidade no tratamento. Sentir-se cuidado por alguém que une conhecimento/técnica e amor/espiritualidade permite ao paciente uma experiência transformadora, capaz de torná-lo responsável pelo processo de cura. Nem sempre teremos todos os recursos para aliviar seus sofrimentos, mas, poderemos ser bálsamos em suas vidas oferecendo nossa presença solidária e amorosa.
Que São Camilo nos ajude a enxergar a presença de Jesus nos que sofrem e a manifestar, por meio do cuidado, a presença misericordiosa de Jesus, que deseja curar e salvar a todos (cf. Jo 10,10).
Sejamos instrumentos nas mãos do Senhor a comunicar saúde por onde passarmos!