O itinerário catequético com jovens precisa trabalhar principalmente o campo vocacional e o crescimento permanente na vida de fé. Toda a linguagem da catequese precisa fazer compreender que não se faz catequese com apenas o objetivo de receber o Sacramento, pelo contrário, a iniciação à vida cristã requer adesão a Cristo e à sua Igreja. Isso implica uma participação ativa na comunidade, lugar de crescimento da fé, por isso é tão necessário compreender o “mundo do jovem”.
Os autores Padre Eduardo Calandro e Jordélio Siles, na obra Psicopedagogia catequética: reflexões e vivências para a catequese conforme as idades – Volume 2: adolescentes e jovens, explicam: “O início da fase da juventude é marcada por mudanças psíquicas a respeito das relações sociais, da atenção ao próprio corpo, da descoberta de si, ampliação do campo cognitivo, da afirmação da própria identidade” (p. 37). A partir dessa abordagem fica evidente que tais transformações não são apenas a maneira como o jovem se percebe, mas também como se relaciona com o mundo ao seu redor. Trata-se de um tempo de transição, em que as relações sociais ganham novo sentido e intensidade. O jovem começa a buscar reconhecimento no grupo de amigos, valoriza mais a opinião dos pares e passa a enxergar-se como parte de uma rede maior de relações. Essa nova percepção, embora enriquecedora, pode também gerar inseguranças, já que o desejo de aceitação convive com a necessidade de afirmar a própria identidade.
Outro aspecto marcante dessa fase é a atenção ao próprio corpo. O jovem descobre as mudanças físicas que o marcam e aprende a lidar com as novidades da puberdade e da adolescência tardia. Essa atenção, por vezes excessiva, pode gerar preocupações com a aparência, mas também abre caminho para o cuidado consigo. É nesse momento que o corpo deixa de ser visto apenas como uma dimensão biológica e passa a ser expressão de identidade, comunicação e até de espiritualidade, daí a necessidade de uma boa formação doutrinal e moral (cf. Diretório para catequese, 253).
No campo interior a juventude é tempo privilegiado de descoberta de si. Surge um movimento natural de autoconhecimento, no qual o jovem busca compreender quem é, quais são seus dons, limites e aspirações. Esse processo é essencial para a formação de uma identidade sólida, mas nem sempre é simples: pode envolver crises, dúvidas e conflitos (cf. Exortação Apostólica Christus Vivit, 233) que exigem acompanhamento, diálogo e escuta atenta por parte da família, da escola e da comunidade de fé (cf. Diretório para catequese, 252).
Do ponto de vista cognitivo, há uma ampliação significativa das capacidades de raciocínio e reflexão. O jovem passa a ter condições de pensar de maneira mais crítica e abstrata, questionar ideias recebidas e elaborar seus próprios juízos. Essa abertura para novos horizontes o torna capaz de enfrentar grandes questões existenciais, éticas e espirituais. É nesse contexto que a busca por sentido ganha força e que os papéis da educação e da fé se tornam fundamentais para orientar escolhas e caminhos.
Por fim, a afirmação da identidade se coloca como um desafio e uma oportunidade. A juventude é tempo de escolhas que marcam a vida adulta: amizades, vocação, valores e projetos (cf. Diretório para catequese, 253). A construção da identidade, no entanto, não se dá isoladamente, mas em diálogo com Deus, com a comunidade e com a sociedade. Quando bem acompanhada, essa fase torna-se ocasião de crescimento, maturidade e abertura ao novo, assim, a juventude não deve ser vista apenas como etapa de instabilidade, mas como um período fecundo, no qual se lançam as bases de uma vida adulta responsável, madura e comprometida. A catequese não pode perder de vista esses aspectos da juventude.