SÃO FABIANO

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20 DE JANEIRO
PAPA E MÁRTIR
(† CERCA DE 250)

“Alegro-me muitíssimo convosco, porque honrais a sua memória com um testemunho solene e esplêndido, fazendo-nos conhecer também a memória gloriosa que conservais do vosso bispo e oferecendo-nos um exemplo de fé e fortaleza.”

Tão logo o Subdiácono Clemêncio (250), enviado pela comunidade romana, tinha posto a par a Igreja de Cartago sobre o martírio do Papa Fabiano, o Bispo Cipriano (258) pegou a pena e escreveu uma belíssima carta de congratulações à Igreja irmã. De fato, era costume trocar entre as igrejas as atas dos mártires para edificação recíproca. Esse costume será retomado mais tarde pelos mosteiros por ocasião da morte de seus abades.

Mas quem foi esse Papa Fabiano, de quem Cipriano, à notícia de seu martírio, disse: “Exultai porque à integridade do seu governo seguiu-se um nobre fim”? Isso foi revelado pelo bispo Eusébio de Cesareia (265-339), em sua História eclesiástica.

Fabiano pertencia à comunidade de Roma e certamente não pensava em ser Papa.

Com a morte de Antero, Papa de origem grega, a comunidade se reuniu para eleger o sucessor e unanimemente escolheu Fabiano, um cristão autêntico e estimado por todos. Até aquele momento, ele tinha se ocupado com a administração de seu campo; dali em diante deveria cuidar do campo de Deus.

BISPO DE ROMA

Fabiano era ainda um simples leigo quando foi sagrado bispo de Roma no dia 10 de janeiro de 236. Os cristãos, até o ano 249, tinham vivido um período de paz sob o imperador Gordiano antes e Filipo Arabo depois. O novo Papa, bom administrador, valeu-se disso para reorganizar a comunidade que – sempre segundo as indicações de Eusébio – era composta por 46 presbíteros, sete diáconos, sete subdiáconos, 42 acólitos, 52 pessoas entre exorcistas, leitores e ostiários e havia aproximadamente entre viúvas e outros cristãos 1.500 necessitados de ajuda.

Fabiano, com seu conselho de presbíteros, percebeu que era o momento de subdividir a cidade de Roma em sete regiões eclesiásticas, confiando o governo de cada uma a um diácono, coadjuvado por um subdiácono. Seu trabalho era administrar abrigos para os doentes, conservar ou construir capelas para o culto e estar em contato com o presbítero, encarregado pelo Papa de prover permanentemente o serviço litúrgico.

Aqueles presbíteros, incardinados numa Igreja, distinguiam-se dos demais que, embora fazendo parte do conselho, recebiam somente tarefas temporárias ou ocasionais. Os incardinados, como diz o nome, construíram o início do que no futuro seria o colégio dos cardeais.

O CUIDADO DAS OUTRAS IGREJAS

Fabiano,enquanto se ocupava da comunidade de Roma, também cuidou de outras igrejas irmãs, ordenando onze bispos para diversas localidades, enviando missionários para a Gália, tomando a defesa do grande Orígenes de Alexandria do Egito e preocupando-se com os problemas dos lapsi.

Nesse novo clima de paz que existia no império, muitos cristãos, que durante as perseguições tinham feito sacrifícios aos ídolos para não perder os bens e a vida, então pediam para voltar à comunhão da Igreja. Eram chamados lapsi, isto é, aqueles que caíram. A Igreja de Roma, já na época de Calisto, vinha usando de muita liberalidade para com eles, ao passo que as igrejas africanas eram mais severas.

Cipriano se lamentava escrevendo, talvez com um pouco de exagero, que na sua região os cristãos, depois das perseguições, eram todos “(…) tentados a acumular bens e esquecer daquilo que tinham feito os cristãos na época dos apóstolos; e em vez de imitar seu exemplo, ardiam num desejo insaciável de riquezas e só pensavam em acumulá-las cada vez mais. A piedade religiosa tinha desaparecido nos sacerdotes, e nos ministros do culto, a fidelidade e a integridade; não existia mais caridade na vida dos cristãos, nem disciplina nos costumes”.

Diante dessa permissividade, Cipriano considerou um castigo de Deus a repentina explosão das perseguições de Décio, em 249. Esse imperador, percebendo o esfacelamento político e moral do Estado, atribuiu a culpa aos cristãos porque se tinham negado a participar dos sacrifícios nacionais para implorar o fim de uma epidemia. Estabeleceu, então, que todos os súditos deviam apresentar-se para o sacrifício e obter um libelo que certificasse sua participação.

Foram muitos os mártires, mas também não faltaram aqueles que abjuraram ou pagaram para obter o libelo sem oferecer o sacrifício. Fabiano, muito conhecido em Roma, foi preso, particularmente visado pelo próprio imperador, que havia decidido eliminar primeiro os bispos para depois dobrar de modo mais fácil os outros cristãos. Foi detido e martirizado em 20 de janeiro de 250. Seu corpo foi sepultado na cripta dos papas no cemitério de São Calisto, onde ele havia depositado as relíquias de seus predecessores.

A ALMA DE UM BOM PASTOR

Antes de sua morte ou logo em seguida, a igreja de Roma tinha enviado uma carta a Cipriano para explicar ao severo bispo de Cartago a praxe da romana em relação aos lapsi. Talvez em Roma a situação não fosse assim tão ruim como aquela que Cipriano tinha encontrado na África. A carta, de qualquer maneira, espelha o estilo de Fabiano e é uma verdadeira obra-prima de caridade pastoral. Eis o texto a seguir:

“A Igreja resiste firme na fé. É verdade que alguns, ou porque ficaram impressionados com a repercussão suscitada por serem pessoas ilustres, ou por causa da fragilidade humana, cederam. No entanto, nós não os abandonamos, embora se tenham separado de nós. Não os abandonamos em sua queda, mas os ajudamos e lhes estamos próximos para que se reabilitem mediante a penitência e recebam o perdão daquele que o pode conceder. Pois, de fato, se os deixamos entregues a si mesmos, a sua queda se tornará irreparável.

Procurai fazer, também vós, outro tanto, irmãos caríssimos, estendendo a mão àqueles que caíram para que se levantem. Assim, se tiverem que sofrer a prisão, sentir-se-ão fortalecidos para confessar, desta vez, a fé e remediarem o erro anterior. Permiti-me lembrar-vos ainda qual é a linha a seguir a respeito de um outro problema.

Aqueles que fraquejaram na hora da provação, se estiverem enfermos, e desde que estejam arrependidos e desejosos da comunhão com a Igreja, devem ser socorridos. As viúvas e outros impossibilitados de se apresentarem espontaneamente, como também os encarcerados ou os que estão longe de suas casas, devem ter quem os ajude. Tampouco os catecúmenos atingidos pela doença devem se sentir decepcionados na sua esperança de ajuda.

Saúdam-vos os irmãos que estão presos, os presbíteros e toda a Igreja que, com a maior solicitude, vela sobre todos os que invocam o nome do Senhor. E também pedimos que vos lembreis de nós”.

Fabiano, compreensivo para com os fracos, tinha deixado um exemplo admirável de fortaleza, adotada por Cipriano com uma carta dirigida a todas as igrejas da África, escrevendo “Como é prejudicial a queda de quem está na chefia, entretanto, ao contrário, é certamente útil e salutar um bispo que se oferece aos irmãos como exemplo de firmeza na fé”.

 

Editorial

Produção Editoral feita em parceria com a Agência Minha Paróquia

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