TRÊS PARÁBOLAS EM LUCAS

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“DESCANSA, COME, BEBE, FESTEJA.” (LC 12,16-21)

Na parábola do homem cuja terra produz muito, ele diz a si mesmo que reunirá todo o seu trigo e que, para isso, terá necessidade de celeiros maiores. Alega ter muitos bens.
A parábola apresenta a ruptura nas relações quando um indivíduo se volta somente para si de forma egocêntrica. Ele é o centro: “E direi à minha alma: ‘Ó, minha alma, tens muitos bens em depósito para muitíssimos anos; descansa, come, bebe e regala-te’. Deus, porém, disse-lhe: ‘Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma; e as coisas que ajuntaste, de quem serão?’” (Lc 12,19-20). Isso atinge a estrutura social e familiar, pois estabelece egoísmo como forma de existência.

No Novo Testamento, a palavra “insensato” aparece somente nesse texto de Lucas. No Antigo Testamento é empregada designando a pessoa que se faz autossuficiente ao se distanciar dos outros e, sobretudo, de Deus (cf. Sl 14,1; 49,11; 92,7).

Os bens são destinados à nossa humanização, enquanto criaturas agraciadas com dons que garantem a vida. O caminho inverso é a perdição, ou seja, a prisão da consciência que gera injusta distribuição, com o acúmulo num lado e falta no outro. O valor dos bens segue a lei cujo fim é favorecer a vida: “Não deverá haver pobres no meio de ti, porque o Senhor, teu Deus, te abençoará certamente na terra que te dá como posse hereditária, contanto que obedeças fielmente à voz do Senhor, teu Deus, pondo cuidadosamente em prática os mandamentos que hoje te imponho” (Dt 15,4-5).

Na parábola, uma orientação muito importante: “Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas” (Lc 12,15).

Na parábola da figueira estéril, a árvore sem frutos inutiliza a terra. O dono pede que seja cortada por seu estado de improdutividade. Entra em cena a intervenção do agricultor: “(…) Senhor, deixa-a ainda este ano; eu lhe cavarei em redor e lhe deitarei adubo. Talvez depois disto dê frutos. Caso contrário, cortá-la-ás” (Lc 13,8-9). Assim, Jesus revela que não é de Deus condenar.

A expressão “dar frutos” significava produzir obras em concreto, segundo as orientações dos profetas ao longo do tempo na história do povo. Era razoável esperar uma resposta com bons frutos na prática da justiça. Deveria ter um basta tanta hipocrisia e o muito ritualismo nas práticas “religiosas”. É o que palavra anunciava: “Porque eu quero o amor mais que os sacrifícios, e o conhecimento de Deus mais que os holocaustos” (Os 6,6).

Jesus era a oportunidade definitiva. O tempo da graça, da espera e da paciência. Um chamado à conversão. Não perder a oportunidade, superando o risco do viver em esterilidade, sem dar frutos. Jesus passou pela Terra fazendo o bem. A presença de Jesus ressuscitado segue sendo o último momento e oportunidade de mudança, de realizar condutas para estabelecer a justiça na sociedade e, assim, a vida em abundância para todos (cf. Jo 10,10).

Na parábola da porta estreita, Jesus está a caminho de Jerusalém e ensina. Alguém pergunta a Ele: “Senhor, são poucos os homens que se salvam?” (Lc 13,23). Uma pergunta interessante, pois revela o pensamento reinante na época de que somente o povo eleito era destinatário da salvação, sobretudo os que viviam segundo a lei de Deus. Em vez de responder a isso, Jesus diz: “Procurai entrar pela porta estreita” (Lc 13,24-30). A salvação não pertence a alguém em exclusivo. Ele esclarece que há duas portas, dois caminhos. Um é estreito e o outro é largo. Correspondem a dois projetos de vida.

Não é possível servir a dois senhores. De um lado, há o projeto do mamon, que vem a descrever a riqueza material tornada como divindade, pois vira ídolo, ocupando o lugar do verdadeiro Deus e escraviza a pessoa (cf. Lc 16,13). Essa porta não exige muito esforço, ela é larga, levando ao individualismo, consumismo e corrupção dos valores. Do outro lado, a porta – projeto divino – é o Reino de Deus e a sua justiça. Entrar por essa porta exige fidelidade, portanto, esforço e renúncia. O caminho é o da equidade, verdade e fraternidade. Viver em contínuo processo de escuta ao chamado à conversão, amor e fidelidade. Perseverar sempre!

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