A DERROTA PODE SER VITÓRIA
O que é vitória para você?
Quando compartilhamos algumas de nossas conquistas nas redes sociais, imediatamente nossa timeline recebe muitos comentários nos parabenizando; a palavra mais usada nestes casos é “sucesso”.
Sim, sucesso. Talvez, o título deste livro cause certa estranheza acompanhada de incômodos.
Não se brinda aos fracassos, brinda-se aos sucessos, às vitórias. De fato, quando erguemos a taça e sugerimos um brinde, queremos elevar uma ação de graças por coisas que consideramos boas, tanto é assim que o próprio símbolo da taça já indica vitória.
Ser bem-sucedido parece ser o objetivo primeiro de nossa existência; uma pessoa de sucesso é uma pessoa feliz, isso pensamos. Estar no rol das pessoas bem-sucedidas indica que estamos um degrau acima dos outros que não tiveram a mesma “sorte”. Por essa razão, os seres humanos que estão nesse patamar acima se vangloriam e inevitável nesse caso são as vaidades.
“Que sorte você teve!”, alguém pode dizer ao bem-sucedido que está sentado no trono do Olimpo. Mas, se foi sorte, qual o mérito pessoal da vitória?
Em uma maratona, todos os atletas que saem na linha de partida almejam o primeiro lugar. Mas só um chegará em primeiro, talvez aquele que estiver mais bem preparado? Talvez… Não se pode, contudo, dizer que os outros não se prepararam. Um concorrente perdedor pode ter se preparado com mais afinco que o ganhador, mas na noite que antecedeu a prova a ansiedade pode ter alterado o seu sono. Sim, ele se preparou, gastou energia e tempo, controlou a alimentação, no dia da corrida ele deu tudo de si, mas seu corpo naquele instante não estava cem por cento.
O vencedor tem seu mérito, porém, não podemos dizer que todos os outros concorrentes, além de perderem a corrida, perderam também tempo. O coração de cada um deles estava centrado em um objetivo, mas não é o resultado do objetivo em si que garante o sentido da vida, o sentido real da existência humana está na preparação. Se assim não fosse, um senhor idoso não faria um esforço em plantar castanheiras, sabendo que, pela cronologia, seria impossível ele colher os frutos.
Quando reduzimos a vitória apenas aos que chegaram em primeiro lugar, aniquilamos os efeitos positivos e vitoriosos a todos os outros que se esforçaram mas não foram capazes de cruzar a linha de chegada em primeiro.
Se pensamos assim, qual a razão de decidirmos fazer a maratona se nossas chances são mínimas?
Internamente, sabemos dos efeitos positivos e vitoriosos do competir em si, mas nos últimos tempos o “mundo” (sociedade) parece ditar a regra de que se você não é vitorioso, então, você é um fracassado.
Esquecemos, lamentavelmente, que viver já é uma vitória, iludimo-nos buscando o Olimpo. Porém, segundo as normas da ditadura do sucesso, a sua vida só terá sentido se você subir no lugar mais alto do pódio, mas lá só cabem uns poucos.
Se não conseguirmos o topo (apresentado como ideal), nossa vida é menos importante?
No livro, meu desejo não é poetizar o fracasso, mas perceber que, apesar de tudo (aparentemente) ter dado errado existe uma possibilidade real e concreta de termos aprendido, crescido e amadurecido mesmo sem termos levantado a taça da vitória.
O que é vitória para você?