COMUNIDADE TRINITÁRIA

A Comunidade Trinitária é o modelo primeiro e mais puro de toda e qualquer comunidade humana e, por isso, também de comunidades como a família, comunidades religiosas e até da própria paróquia, que tem por objetivo organizar e dirigir a comunidade dos cristãos. A paróquia será tanto mais perfeita quanto mais fielmente for uma réplica ou cópia da própria Comunidade Trinitária.

Se pela imaginação regressarmos até os primórdios imaginados da eternidade, deparamos com alguém: Deus. Ele somente. Não Deus sozinho, solitário, mas Deus Comunidade. Lá nos abismos da eternidade existiu a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

O Pai: a realidade “pai” é essencialmente relativa, isto é, essencialmente relacionada com outra realidade, isso que dizer “voltada para” outra realidade. Ser pai é ser relação, é ser relacionado, é ser para alguém que é o filho. Por isso, Deus Pai é essencialmente “ser para”. É ser para o Filho.

O Filho: a realidade “filho” é essencialmente relativa, isto é, essencialmente relacionada. Ser filho é ser relação, é ser relacionado. Deus Filho é essencialmente ser para o Pai.

O Espírito Santo: procede do Pai e do Filho como sendo seu eterno amor. O amor como tal não é uma realidade em si mesma, é uma realidade intermediária “entre” aquele que ama e aquele que é amado. O amor é relação, é estar relacionado, por isso, o Espírito Santo, que é amor, é o ser para entre o Pai e o Filho.

Cada uma das três pessoas é essencialmente um ser para de uma pessoa em relação à outra.

DECORRÊNCIAS DA REFLEXÃO SOBRE A COMUNIDADE TRINITÁRIA

Onde houver o ser para de uma pessoa a outra, aí haverá comunidade. Só há comunidade, portanto, onde cada pessoa que a integra for um ser para a outra pessoa. Tanto mais seremos comunidade quanto mais entre nós existir o ser para de cada um com todos os outros. Do ser para entre as pessoas é que faz constituir e criar relações comunitárias, a comunitariedade, a comunidade verdadeira e existencial.

Onde houver comunidade, haverá vida. Onde houver comunidade e vida, haverá felicidade.

O ser para entre as pessoas organiza e convoca a comunidade, cria vida e faz nascer a felicidade. Comunidade, vida e felicidade, no mais profundo de si mesmas, são uma só e mesma coisa.

Deus é essencialmente ser para, em cada uma de suas pessoas. O ser para de Deus é o molde, o modelo, a forma segundo a qual o homem foi criado. O ser humano é um ser social, isto é, destinado, por natureza, a relacionar-se com outras pessoas. Ora, se a pessoa humana é um ser para em seu próprio ser é evidente que deverá ser um ser para também em seu agir, em todo seu comportamento, em toda sua vida.

A vivência, a vida concreta, o reflexo para fora, a expressão externa do ser para de Deus consistem essencialmente em ser amor. Tanto mais perfeitamente o homem realizará em si a imagem de Deus quanto mais perfeito for em sua vivência do amor.

 

A NOVIDADE DO MANDAMENTO NOVO DO AMOR

Jesus, ao dar o mandamento do amor, não fazia senão pedir que nos comportássemos em conformidade com a nossa natureza, que nos comportássemos uns para com os outros como pede e exige o ser para que constitui a nossa própria natureza, criada segundo o molde do ser para divino.

A novidade do mandamento novo do amor está na plenitude e perfeição, extensão, abrangência, vastidão do amor que Jesus prega no Evangelho, que são mais amplas do que se pode imaginar.

Jesus quer que nós sejamos cada um de nós com Ele um ser para o outro em plenitude, sempre e em toda a parte, isto é, sejamos “amor ambulante”.

A novidade do mandamento novo de Jesus está ainda nos modos com que Jesus o propõe: maneira de servidor (cf. Mt 20,26), maneira de escravo (cf. Mt 20,27), amor aos próprios inimigos (cf. Mt 5,38-48), amor que dá a vida (cf. Mt 20,20), amor que se dá simplesmente (cf. At 20,35).

Jesus torna visível e palpável o ser para trinitário. Ele nos torna capazes de vive em plenitude o ser para divino. De fato, “Pelo derramamento de seu sangue na cruz, Cristo nos mereceu o Espírito Santo” (Pio XII). Por meio do Espírito Santo, Cristo nos tornou capazes de amar como Deus ama.

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