“QUE VOS AGRADE O CANTAR DOS MEUS LÁBIOS.” (SL 18)

Muitos são os que dizem fazer de tudo para agradar a Deus, mas, poucos são os que realmente se colocam em busca dele. Buscar a Deus com sinceridade do coração sem a pretensão do encontro. Como assim? A pretensão carrega a busca de vaidade e orgulho, para buscar a Deus é preciso despojar-se de si mesmo. É um esvaziar-se de tudo o que alimenta o orgulho. Quem busca a Deus é porque já o encontrou e entende que é na constante busca que se encontra a atividade do amor.

O Catecismo da Igreja Católica inicia dizendo que o homem é “capaz” de Deus: “O desejo de Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que procura sem descanso” (1,27). Esse é o sentido do cantar na Igreja. Cantar em comunidade.

O canto tem um papel fundamental na liturgia católica: é constante busca de Deus. Sendo assim, deve ser bem estruturado, usando todos os recursos possíveis para que a tarefa musical se faça sem reservas.

Há uma grande confusão entre entusiasmo e impulso. Praticamente se ouve nas igrejas canto impulsivo, sem técnica, sem estudo e, o mais perigoso, sem entusiasmo. Cantar com entusiasmo é se encontrar mergulhado nas verdades do Espírito Santo. O entusiasmo, quando verdadeiro, só pode ser fruto do silêncio; Deus não vem na tempestade, mas somente na brisa suave, no sussurro delicado.

O Profeta Elias encontrou o estado de canto, ou seja, na suavidade da presença de Deus ele ficou encantado. Estar encantado é se encontrar em estado de canto. Por que o barulho tomou conta das igrejas? Porque o encantamento e o entusiasmo sobre o amor de Deus são substituídos pelos impulsos da vaidade humana sem o filtro do silêncio e do verdadeiro preparo espiritual. Isso não quer dizer que o amor de Deus não está presente no coração das pessoas, nada disso! Porém, o amor de Deus tem-se misturado com as ilusões do amor próprio, então, o resultado não é espiritual totalmente. Seria como se lêssemos o cardápio para matar a fome. É necessário muito trabalho para que o cardápio se concretize à mesa! Falar de Deus pelos impulsos não é a mesma coisa que falar em Deus pelo entusiasmo.

Música é oração e a oração católica é feita com música. Somente no exercício do silêncio se pode encontrar o Espírito Santo e abrir os lábios para emitir, com entusiasmo, os sons que chegam a Deus. A música cristã necessita de exame de consciência! O monge beneditino Anselm Grün, em seu livro A saúde como tarefa espiritual, convida ao pensamento: “Quem sou eu diante do meu Deus? Como estou? O exame de consciência propriamente dito é o encontro com Deus”. É questão de silêncio, escuta e humildade. 

Que a música seja portadora de entusiasmo a todos que desejam caminhar ao encontro com Deus: “Que vos agrade o cantar dos meus lábios e a voz da minha alma; que ela chegue até vós, ó Senhor, meu rochedo e redentor!” (Sl 18[19]).

Facebook
WhatsApp
Email
Imprimir
LinkedIn