AS DEMORAS DE DEUS

09O “silêncio” de Deus e suas “demoras” são sem dúvida um mistério que só pode ser compreendido e aceito a partir da fé naquilo que Deus é. Sabemos que Ele é amor eterno, não está sujeito ao tempo, ao passado, presente ou futuro. 

A realidade do mundo atual, onde tudo é automático e se faz às pressas, leva o homem cada vez mais à angústia ante a necessidade da espera. Quantas vezes você pediu a Deus para que interviesse e que não tardasse diante do seu sofrimento ou de outros? Há situações em que parece que Deus está demorando ou em silêncio, contudo, essa é uma visão suscitada por uma fé desvirtuada. Ao contrário, ensina São Paulo: a fé que age pelo amor (cf. Gl 5,6) tem como fundamento a paciência. 

Talvez você se pergunte como dar uma resposta paciente no meio de adversidades constantes. Somente aquele que conhece Deus, que experimenta o seu amor e cultiva um relacionamento íntimo com Ele é capaz de dar uma resposta paciente diante da noite das provações. Como Jó, que, depois de todos os infortúnios pelos quais passou, diante de Deus chegou à conclusão: “Reconheço que tudo podes e que nenhum dos teus desígnios fica frustrado (Jó 42,1).

A novidade da nossa fé revelada por Jesus sobre quem é Deus é a sua paternidade amorosa. Como é bom saber que temos um Deus Pai de amor, que sabe dar boas coisas aos seus filhos (cf. Mt 7,11). O Pai vê, o Pai sabe, o Pai cuida (cf. Mt 6,25s). Deus Pai é amor sempre ativo; talvez com mais ardor quando parece que se cala e demora em intervir. 

Cremos que Deus em sua providência faz com que todas as coisas concorram para o bem daqueles que o amam (cf. Rm 8,28). Ele sempre está a nosso lado, ainda que em nosso dia a dia pareça que tudo está como um céu coberto de nuvens. Tal intuição teve Santa Teresinha, que exclamou confiante: “Nem o vento nem a chuva; e se nuvens sombrias chegam a esconder o Astro do Amor, o passarinho não muda de lugar, pois sabe que para além das nuvens o seu Sol brilha sempre, e que o seu brilho não se poderia eclipsar nem por um instante sequer” (História de uma alma, manuscrito B).

Quem assim caminha na fé, abandonado e com confiança filial nas “mãos” de Deus, vive muito bem o sábio conselho do Livro do Eclesiástico: “Sofre as demoras de Deus. Dedica-te a Deus, espera com paciência (…). Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus pelo cadinho da tribulação” (2,3-5).

Sigamos com a certeza de que em Deus tudo, absolutamente tudo pelo que passamos tem um sentido salvífico e conduz para formar em nós o homem perfeito à imagem de Cristo.

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