O Evangelho de Lucas

Neste Ano Litúrgico C, a Igreja convida os fiéis a refletirem principalmente sobre o Evangelho de São Lucas, escrito por volta dos anos 80 e 90 d.C. Ele surgiu em um contexto marcado por intensas perseguições aos cristãos. Lucas escreveu com o propósito de animar, fortalecer a esperança e a perseverança dos cristãos. 

Lucas não conheceu Jesus pessoalmente, mas fez uma pesquisa cuidadosa para escrever seu Evangelho (cf. Lc 1,1-4). Esse evangelista é conhecido por apresentar um relato profundamente humano e misericordioso da vida de Jesus, destacando seu amor pelos pobres, marginalizados e pecadores. Ele enfatiza a alegria da salvação, o papel do Espírito Santo e a importância da oração na vida de Cristo e da comunidade cristã. Durante o ano somos convidados a refletir mais profundamente sobre temas como a compaixão de Deus, o acolhimento ao próximo e a construção do Reino de Deus em nosso dia a dia.

Em sua visão, o Antigo Testamento representa o tempo das promessas e preparação de um povo, enquanto Jesus inaugura o anúncio do Reino de Deus, cumprindo essas promessas. Com Ele, começa o tempo da Igreja, quando a mensagem do Reino deve se espalhar pelo mundo. 

A estrutura do Evangelho: 

1,1-4 – prólogo;

1,5-2,52 – introdução: a infância de João Batista e de Jesus;

1,5-45; 1,56 – anunciação das concepções de João Batista e Jesus;

1,46-55 – o Magnificat e outros cânticos;

1,57-2,40 – narrativas do nascimento, circuncisão e imposição do nome de João Batista e de Jesus;

2,41-52 – o Menino Jesus no templo;

3,1-4,13 – preparação para o ministério público;

3,1-20 – o ministério de João Batista e sua prisão;

3,21-4,13 – apresentação de Jesus como Filho de Deus;

4,14-9,50 – ministério na Galileia;

4,14-5,16 – rejeição em Nazaré e atividades em Cafarnaum e no mar da Galileia;

5,17-6,11 – o chamado dos discípulos e reações à mensagem de Jesus;

6,12-49 – a eleição dos doze apóstolos e instruções sobre o discipulado;

7,1-50 – fé e incredulidade diante dos sinais de Jesus;

8,1-56 – catequese sobre o verdadeiro discipulado e perseverança;

9,1-50 – participação dos doze no ministério de Jesus: desafios e tentações;

9,51-19,28 – a caminhada de Jesus rumo a Jerusalém;

9,51-56 – rejeição inicial na Samaria;

9,57-10,37 – as exigências do discipulado e a verdadeira alegria dos enviados;

10,38-13,21 – realidades essenciais como escuta, abandono e vigilância;

13,22-17,10 – alcançar o verdadeiro tesouro e a inversão dos primeiros e últimos;

17,11-18,34 – a força dos pequeninos – pobres, pecadores e crianças;

18,35-19,28 – a necessidade de conversão;

19,29-24,49 – o Ministério de Jesus em Jerusalém;

19,29-48 – chegada em Jerusalém e entrada no templo;

20,1-21,4 – ensinamentos e disputas com as autoridades;

21,5-38 – instruções aos discípulos sobre vigilância e o fim dos tempos;

22,1-38 – despedida dos discípulos: o dom de si mesmo na Eucaristia;

22,39-23,25 – entrega aos homens e aceitação da morte;

24,1-49 – o encontro com o Ressuscitado: promessa, envio e despedida;

24,50-53 – epílogo: a ascensão e o retorno ao Pai.

Essa estrutura reflete a progressão narrativa do Evangelho de Lucas, desde o anúncio e os nascimentos de João Batista e Jesus até os últimos momentos do ministério público, a paixão, a ressurreição e o envio final.

O Evangelho de Lucas destaca dois temas centrais: a viagem de Jesus a Jerusalém e a misericórdia divina. A viagem, que culmina na paixão e morte de Jesus, também marca o início da missão de espalhar o Evangelho após sua ressurreição. Jerusalém simboliza tanto o fim quanto o começo dessa jornada de salvação.

A misericórdia de Deus é outro tema fundamental, evidenciado desde o nascimento de Jesus com a proclamação dos anjos sobre o amor incondicional de Deus pela humanidade. Lucas enfatiza que a misericórdia divina é inclusiva, buscando restaurar os pecadores, como exemplificado nas parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e do pai misericordioso. A mensagem de Lucas nos convida a viver e compartilhar esse amor universal.

No Evangelho de Lucas, a salvação de Cristo é apresentada como universal, abrangendo toda a humanidade, não apenas o povo eleito. A genealogia de Jesus, que remonta a Adão, e episódios como o de Nazaré (cf. Lc 4,25-27) reforçam essa missão para os pagãos. Jesus declara que veio “procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10) e ensina que o arrependimento e o perdão dos pecados devem ser pregados a todas as nações (cf. Lc 24,47). A salvação é acessada pela fé, não pela religiosidade formal, como exemplificado em diversas curas e perdões. A ação do Espírito Santo é central tanto no ministério de Jesus quanto na missão da Igreja, destacando a generosidade divina. O Evangelho de Lucas convida todos à salvação, guiada pela fé e pelo Espírito Santo.

Jesus declara sua missão ao dizer a Zaqueu “O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). Essa salvação, motivo de sua encarnação, é explicada por Jesus no relato da ascensão: “Que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24,47).

A salvação vem da fé, não de uma religiosidade formal e vazia, como a dos fariseus. Jesus exalta a fé como caminho para o perdão e a cura: ao paralítico (“Meu amigo, os teus pecados te são perdoados” [Lc 5,20]), à pecadora (“A tua fé te salvou, vai em paz” [Lc 7,50]), à mulher hemorrágica (cf. Lc 8,48), ao chefe da sinagoga (cf. Lc 8,50), ao leproso samaritano (cf. Lc 17,19) e ao cego em Jericó (cf. Lc 18,42).

Essa obra de salvação é realizada pela ação do Espírito Santo, presente tanto no ministério terreno de Jesus (cf. Lc 4,18; 10,21) quanto no tempo da Igreja (cf. At 13,47-48). Jesus reafirma a generosidade de Deus ao dizer “Quanto mais o vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem!” (Lc 11,13).

Assim, o Evangelho de Lucas destaca a missão redentora de Cristo como um convite universal à salvação, guiado pela fé e pelo Espírito Santo.

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