O poder da sensibilidade e lealdade nas famílias

Estimado leitor da Revista Ave Maria, começo nossa reflexão mensal de março convidando você e sua família a uma experiência evangélica do poder da sensibilidade e da lealdade nas construções afetivas.

A sensibilidade é a faculdade de sentir compaixão, sentimento típico dos seres humanos que se caracteriza pela piedade e empatia em relação à tristeza alheia, além da simpatia pelas pessoas.

Maria estava, como convidada, na festa de casamento, com Jesus e os apóstolos. Como convidada, ela não tinha responsabilidade alguma sobre o casamento, nem pela comida, tampouco pela bebida e pelos convidados. Todas as responsabilidades eram dos noivos e de suas famílias. Os anfitriões deveriam oferecer boa comida e boa bebida a seus convidados e o vinho era essencial para a celebração da alegria em torno do casal. De repente, o vinho acabou e as pessoas ficaram aflitas, não sabendo o que fazer e como agir. Maria poderia estar apenas se divertindo como os outros convidados, porém, ao perceber a situação crítica, ela, com uma sensibilidade extraordinária, resolveu agir e interceder em favor de todos, assumindo o problema como se fosse seu. 

Maria, modelo e exemplo de alguém que viveu profundamente no amor de Deus e cuja vida foi fazer a vontade dele, possui como uma das principais características, dentre tantas outras, a de demonstrar um amor incondicional por quem está ao seu lado, como quando se colocou à disposição para cuidar de sua prima Isabel, que estava grávida (cf. Lc 1,39-55). 

No gesto sensível de Maria em Caná, percebemos quanto ela se preocupa com seus filhos e quanto sua atenção está voltada para cada um de nós. Ela vem ao nosso encontro para nos socorrer, amparar, proteger e auxiliar, sempre atenta às necessidades espirituais e materiais de quem está ao seu redor. 

Precisamos cultivar uma vida cristã de relacionamentos que nos sensibilizam com a vida alheia. Nesse sentido, entendemos claramente como a célula é uma escola de sensibilidade. O que nos interessa é o amor fraterno e, se ele faltar, não temos razão de nos reunir. Que possamos cultivar, em nossos corações, a mesma sensibilidade que Maria disponibiliza e que possamos estar atentos às necessidades espirituais e materiais de quem está ao nosso lado. 

A palavra “lealdade” lembra um poderoso sentimento de pertencimento e solidariedade, mediante uma fidelidade sincera, juntamente com devoção e dever inabaláveis. Deus estabeleceu a própria essência da lealdade por meio da aliança com seu povo: “Reconhece, pois, que o Senhor, teu Deus, é verdadeiramente Deus, um Deus fiel, que guarda a sua aliança e a sua misericórdia até a milésima geração para com aqueles que o amam e observam os seus mandamentos” (Dt 7,9). Por meio dessa aliança temos a certeza do infinito amor de Deus para conosco e de que quem crer não poderá ser separado (cf. Rm 8,35-39) e quem se revelar desleal não pertence a Deus (cf. 1Jo 3,24).

 Em nossos relacionamentos humanos, também somos chamados a uma lealdade inabalável, como a demonstrada por Rute à sua sogra (cf. Rt 1,16). A lealdade é uma das qualidades mais admiráveis que alguém pode ter, é um compromisso de se desprender de si mesmo pelo bem-estar do outro: “Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses, e sim os dos outros” (Fl 2,4). 

 Lealdade é ser fiel, não importando as consequências, preferindo a honra e o respeito. É manter um compromisso até o fim. A lealdade vem do Senhor e é fruto do amor, a deslealdade vem do diabo e é fruto do ódio.

 O mundo precisa ver o compromisso de amor entre nós, membros de uma família. Seja uma pessoa de aliança, com Deus e com os irmãos e irmãs, e tome hoje a decisão de amar os irmãos incondicionalmente.

 A família é realmente esse ambiente eclesial fértil para iniciarmos amizades no Senhor e para podermos cultivá-las, renovando sempre nossa entrega de vida uns pelos outros; por essa razão, precisamos fortalecer a vida de vínculos de amizade e fraternidade cristã na família. Isso é possível quando certos valores da vida comunitária nos moldam e nos guiam. A família, mais do que um grupo de compromisso religioso, é uma real Igreja doméstica e, portanto, precisa ser guiada por valores antes de práticas.

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