Experiência de fé por meio da liturgia

Uma das mais visíveis expressões da fé cristã é a assembleia litúrgica, a Kahal, citada em Deuteronômio 9,10, e a ekklesia, como no Evangelho de Mateus (cf. 16,18). É o encontro dos chamados, convocados pelo próprio Deus, por Javé, na experiência veterotestamentária, e pelo próprio Filho de Javé no Segundo Testamento, portanto, a liturgia é a realização do encontro daqueles que ouvem o chamado de Deus e querem se encontrar para que possam assim responder melhor com a vida, celebrada e vivida, ao chamado de Deus.

Os seres humanos somos mediados pelas palavras, sons, símbolos e desse modo conseguimos compreender a nós mesmos e o que nos rodeia e ser compreendidos, dotados de corpo, mente e espírito, imagem e semelhança de Deus, como nos ensina e recorda o livro do Gênesis 1,26, entramos em comunicação e relação com o mundo e a partir de Deus temos a missão de resgatar, construir e fortalecer a comunhão. A experiência de celebrar tem o valiosíssimo tesouro de nos permitir todos os dias, ou ao menos no domingo, o dia do Senhor, não perder de vista esse edificante propósito.

O ser humano, ser de comunicação por diversos meios, especialmente pelos rituais e símbolos, é um ser litúrgico, em sua individualidade e especialmente na dimensão comunitária, junto com os outros, fortalecendo laços constituídos e conquistados; temos rituais cotidianos e em todas as culturas há os grandes ritos e rituais.

A experiência da vida cristã, da liturgia dos discípulos e discípulas de Jesus, é originária e originante, tem a sua origem em Jesus Cristo, o Filho de Deus feito humano, é a Última Ceia participada por Jesus com seus discípulos, que fez alargar a ceia judaica e dar-lhe um sentido pleno que atravessou o tempo e o espaço, da Jerusalém no século primeiro aos nossos tempos e onde vivemos; originante da Igreja e de todos os outros sacramentos e atos litúrgicos, apontou num tríduo para o nascimento de um novo tempo, a começar pelo primeiro dia da semana, o dia do Senhor, o domingo, aproximando passado, presente e futuro, memória, realidade e plenitude. Participar da liturgia, de modo consciente e cada vez mais amadurecido é alcançar “(…) o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força” (Sacrosanctum Concilium,10).

A fé, vivida e celebrada na liturgia, permite-nos compreender o que cremos e mais em quem cremos, por isso celebramos a Eucaristia, por excelência, e todos os outros sacramentos, sacramentais e rituais, dando-nos a iluminação, a sabedoria e o entendimento para vivermos crentes, discípulos e discípulas de Jesus, filhos e filhas de um Deus Pai e acolhedores do Espírito Santo; assim dialogamos com Deus todos os segundos, minutos, horas e dias, a cada mês e a cada ano, fazendo um percurso existencial, na forma da espiral, cada vez mais próximos da meta, o Céu.

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