Neste mês especial, a Igreja se encontra imersa em uma atmosfera repleta de significado e esperança. Somos chamados a renovar a nossa fé pelo vigor das grandes celebrações litúrgicas – Ascensão do Senhor, Pentecostes e Santíssima Trindade – e pela nomeação do Papa Leão XIV, eleito em maio passado. Tudo parece indicar mais um sopro, pós-Francisco, do Espírito Santo abrindo portas e redesenhando cenários diante dos olhos de uma comunidade global que anseia por paz, unidade e justiça.
O tempo litúrgico deste período nos coloca em sintonia com o mistério da presença de Deus entre nós. Ao celebrarmos a Ascensão do Senhor, não nos perdemos em saudade ou nostalgia pela presença física de Cristo, mas reconhecemos a continuidade de sua missão no meio de nós. O Ressuscitado, ao se elevar ao Céu, não abandona sua Igreja: nela permanece, vivo e atuante, por meio do Espírito Santo que anima cada comunidade, tornando presente a Palavra e a ação de Jesus em cada gesto de amor, de evangelização, de serviço. O convite feito aos discípulos – e hoje estendido a todos nós – é o de deixar de olhar apenas para o Céu e nos colocarmos a caminho, como testemunhas de uma esperança que não se apaga, mesmo diante da ausência “visível” do Mestre. É nesse mesmo movimento que se abre agora, com a chegada do novo Papa, um tempo em que somos chamados a não ficarmos estáticos, mas a prosseguir, de olhos e coração voltados para o mundo, impulsionados pelo Espírito que faz novas todas as coisas.
A eleição do novo sucessor de Pedro, celebrada com tanto fervor no mês passado, reforça essa certeza: a Igreja é conduzida não pela força de uma única pessoa, mas guiada pelo Espírito de Deus, que age na história, escutando o clamor da humanidade. Neste tempo, tão marcado por tensões, polarizações, crises e incertezas, a escolha do novo Papa tem um significado particular. Ele representa a unidade visível da Igreja, à semelhança da Trindade que celebraremos neste mês, e é chamado a ser, de modo especial, sinal de escuta, de diálogo e coragem missionária. Mais do que nunca, espera-se de seu pontificado um chamado à compaixão, tão cara ao seu predecessor, traduzida em atitudes concretas, à ousadia do perdão e à acolhida das diversidades, pois, como nos recorda a Solenidade de Pentecostes, a verdadeira unidade só se constrói a partir do respeito e da beleza das diferenças.
Aliás, Pentecostes nos faz recordar o início da missão da Igreja: um povo antes fechado pelo medo torna-se ousado, capaz de anunciar a Boa-Nova em todas as línguas, construir pontes entre culturas e oferecer, pela ação do Espírito Santo, a experiência de fraternidade universal. A presença do novo Papa nesse contexto traz consigo o mesmo desafio: abrir as portas, sair de si, acolher as periferias, escutar os últimos, criar comunhão onde parece impossível encontrar unidade. O Espírito, que distribui dons e ministérios a cada fiel e a toda a comunidade, conduz-nos a uma Igreja menos preocupada com suas próprias estruturas e mais capaz de se deixar conduzir, sempre de novo, para o encontro com o outro, para a construção de uma nova humanidade marcada pela fraternidade, pela justiça e pela paz.
Nesse fluxo de acontecimentos, celebrar a Santíssima Trindade é mergulhar no próprio mistério do Deus que não é solidão, mas, comunhão. A vida trinitária não é uma abstração teológica distante, mas o fundamento de toda vida cristã: somos criados à imagem do Deus e chamados a viver essa unidade em cada família, em cada comunidade, em toda a Igreja. A eleição de Leão XIV e as celebrações ao longo deste mês se encontram precisamente aí, na tarefa cotidiana de converter o olhar, alinhar o coração e aprender, todos os dias, a construir unidade na diversidade, seja dentro de nossas casas, de nossas paróquias ou na convivência com o mundo plural que nos desafia a cada hora.
Próximos do sagrado coração de Jesus e da ternura de Maria, guardamos em nossos corações não apenas as expectativas em relação ao novo pontífice, mas também a responsabilidade de sermos, em nossos ambientes, sementes de comunhão e sinais do Reino. Maria, mestra de acolhida e silêncio, presente com os apóstolos no Pentecostes, ensina-nos a estar atentos à voz do Espírito, dispostos à escuta, prontos para o serviço. Com ela, olhamos à frente com esperança, certos de que, conduzidos pelo Espírito e sob o magistério do novo Papa, a Igreja saberá responder aos desafios do tempo presente com criatividade, profecia e amor.
Que este junho de 2025 seja marcado pelo ardor missionário, pela coragem do diálogo, pelo compromisso com a paz e pela alegria de uma fé sempre renovada. Avancemos juntos, como Igreja, no horizonte aberto pelo Espírito, vivendo a comunhão, promovendo a esperança e servindo a verdade do Evangelho em cada realidade que habitamos. Com os olhos fixos em Cristo, guiados pelo Espírito, sob a materna intercessão de Maria, celebremos juntos a esperança de um novo “tempo de ser Igreja caminhar juntos, participar”.
NOTAS MARIANAS
EM LOUVOR A NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
O dogma da assunção foi proclamado pelo Papa Pio XII, no dia 1º de novembro de 1950, Festa de Todos os Santos, dando origem à devoção a Nossa Senhora da Assunção e à Festa da Assunção de Maria, celebrada a 15 de agosto. Na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, Pio XII definiu o dogma da assunção de Nossa Senhora em corpo e alma ao Céu. O Papa afirmou ao escrever: “A imaculada mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial” (Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, 43).