A BUSCA PELA ESPIRITUALIDADE CRISTÃ

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Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave Maria, as pessoas em todas as épocas, povos e culturas perguntam o porquê das coisas. O ser humano é potencialmente aberto ao infinito. Nada e ninguém, na face da Terra, pode satisfaze-lo plenamente. É humano sentir-se atraído pelas coisas do alto, o ser humano é chamado às alturas. Sente-se atraído pelo transcendental. O ser humano é ser capaz de dar sentido a tudo o que se é e que se faz. É procurar viver com espírito. Num sentido amplo, podemos chamar isso de espiritualidade. Mas, o que é verdadeiramente espiritualidade?

Espiritualidade pode assinalar realidades muito variadas e às vezes distantes umas das outras. Fala-se de espiritualidade cristã, judaica, mulçumana, oriental etc. Dentro do cristianismo, cada uma das grandes confissões desenvolveu uma espiritualidade específica: anglicana, católica, ortodoxa, protestante. Dentro da própria tradição católica, encontramos uma pluralidade de espiritualidades: a espiritualidade litúrgica, bíblica, monástica, ecumênica, espiritualidade da cruz. Cada uma delas acentua um método que possibilita provocar mudanças interiores. A espiritualidade, para ser espiritualidade de fato, tem que provocar dentro de nós mudanças.

A mudança não se constitui num intimismo, um voltar-se unicamente para dentro de nós. Ela é na verdade uma reorientação de todo o existir a partir de uma experiência que confere sentido à totalidade de existir e nos conduz ao encontro do mistério de Deus, da vida e dos irmãos.

Espiritualidade é algo intrinsecamente humano, ou seja, é parte da constituição de cada pessoa. Esse fenômeno indica que em cada tempo e em cada cultura há uma forma de vivenciá-la, o que nos indica que existem múltiplas formas de espiritualidade.

Em cada confissão cristã, por exemplo, fala-se também de escolas de espiritualidade. Na Igreja Católica temos as espiritualidades beneditina, franciscana, dominicana, carmelita e muitas outras, sem mencionar a escola francesa de espiritualidade (séculos XVI e XVII), que foi a que teceu precisamente a expressão “espiritualidade”, palavra considerada por muitos como filha da modernidade. Esse termo se aparenta com espírito e espiritualismo, que indicam, de um ponto de vista psicológico, o primado do espírito na explicação dos fenômenos psíquicos e, de um ponto de vista metafísico, afirmam que o mundo é constituído, no seu fundo último, pelo espiritual.

A espiritualidade cristã consiste numa vida espiritual na qual nossa vida mais íntima, mais pessoal, floresce graças ao desenvolvimento da relação pessoal que Deus quer estabelecer conosco ao nos falar em Cristo.

O desenvolvimento da espiritualidade cristã culmina na contemplação legitimada pela caridade. A doutrina cristã proclama que Deus é Pai, Filho e Espírito e que este Espírito Santo é a fonte e a alma de toda a vida espiritual, que nunca poderá ser reduzir ao puramente psicológico.

A espiritualidade cristã é a vida no Espírito Santo, que está presente e atua em cada um dos fiéis. A espiritualidade, compreendida dessa maneira, caracteriza-se por seu cristocentrismo: o Espírito Santo nos revela Cristo e nos conduz a Ele.

A espiritualidade cristã tem como centro Jesus. Ele nos abriu o caminho para o mistério de Deus. Podemos afirmar que é um processo de identificação com Cristo. Trata-se de um seguimento existencial de Jesus que se vive em comunidade.

Porém, viver com espírito não é coisa banal, é para teimosos, pessoas ousadas, por isso, em cada época, em cada situação, é preciso redescobrir a espiritualidade. Técnicas e inteligência não nos bastam para nos fazer felizes, precisamos de algo que nos dê esperança senão cansamos e a prática vai murchando, perdendo o gosto pelas coisas e o sentido.

O ser humano é chamado a ser perfeito como o Pai Celeste é (cf. Mt 5,48). Conclui-se que sua vida deve ser um processo dinâmico, então, toma como espiritualidade o esforço do ser humano em relacionar-se com o transcendental. Com intenções diferentes, povos e pessoas procuram, dos mais variados modos, relacionar-se com os seres considerados superiores. O ser humano busca experiências fortes. A espiritualidade passa pela experiência e quem a faz com o transcendental sente a profunda necessidade de anunciar. Vamos buscar entender então o que é a experiência.

Pe. Rodolfo Faria

Sacerdote, Mestre em Comunicação. Apresentador de TV na Rede Século 21. Diretor de Programação 93.3 FM. Colunista de Jornal e Revista e Escritor.

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