Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave Maria, começo nossa reflexão mensal de junho sobre a promessa do Espírito Santo para as famílias.
Há uma relação muito íntima entre família e Espírito Santo. O grande Santo Agostinho formulou a doutrina do Espírito Santo como “mestre interior”. O que quer dizer – ele se perguntava – “Não necessitais que ninguém vos instrua”? Talvez que o cristão sozinho já sabe tudo por sua conta e que não precisa ler, formar-se, escutar ninguém? A verdade é que há necessidade de escutar mestres e pregadores externos, mas só entenderá e aproveitará o que dizem aquele a quem lhe fala no íntimo, isto é, o Espírito Santo. Isso explica por que muitos escutam a mesma pregação e o mesmo ensinamento, mas nem todos compreendem de igual forma.
A palavra que um dia ressoou no Evangelho – “O mestre está aqui e te chama!” (Jo 11,28) – é verdadeira para cada cristão. O próprio mestre de então, Cristo, que fala por meio de seu Espírito, está dentro de nós e nos chama.
Tinha razão São Cirilo de Jerusalém ao definir o Espírito Santo como “o grande didáscalo, isto é, mestre da Igreja”.
Nesse âmbito, quando dizemos que o Espírito Santo é íntimo das famílias, implica dizer que o Espírito instrui com as “boas inspirações” ou as “iluminações interiores”, das quais todos tivemos alguma experiência na vida. São impulsos para seguir o bem e rejeitar o mal, atrações e propensões do coração que não se explicam naturalmente, porque com frequência vão em direção contrária ao que a natureza queria.
A mesma tensão entre promessa e cumprimento que se observa na Escritura a propósito da pessoa de Cristo percebe-se também com relação à pessoa do Espírito Santo. Como Jesus primeiro foi prometido nas Escrituras, depois se manifestou segundo a carne e por último se espera em seu retorno final, assim o Espírito, em um tempo “prometido pelo Pai”, foi dado em Pentecostes e agora de novo o espera e invoca “com gemidos inefáveis” o homem e toda a criação, que, tendo aproveitado as primícias, aguardam a plenitude de seu dom.
Neste espaço que se estende de Pentecostes à parusia, o Espírito é a força que impulsiona as famílias adiante, que nos mantém em caminho, que não nos permite acomodar-nos e converter-nos em famílias “sedentárias”, que nos faz cantar com um sentido novo os “salmos das ascensões”: “Que alegria quando me disseram: ‘Vamos para a casa do Senhor!’” (Sl 122,1). Ele é quem nos dá impulso e põe asas em nossa esperança; mais ainda: é o próprio princípio e a alma de nossa esperança.
A que se refere Jesus quando chama o Espírito Santo de promessa do Pai? Onde o Pai fez essa promessa? Pode-se dizer que todo o Antigo Testamento é uma promessa do Espírito. A obra do Messias se apresenta constantemente como culminante em uma nova efusão universal do Espírito de Deus sobre as famílias. A comparação com o que Pedro diz no dia de Pentecostes mostra que Lucas pensa, em particular, na profecia de Joel: “Acontecerá nos últimos dias, diz Deus: ‘Derramarei meu Espírito sobre toda carne’” (Ez 36,27).
Quanto ao conteúdo da promessa, Lucas sublinha, como de costume, o aspecto carismático do dom do Espírito, em especial a profecia. A promessa do Pai é “o poder do alto” que tornará os discípulos capazes de levar a salvação aos confins da Terra, mas, não ignora os aspectos mais profundos, santificadores e salvíficos da ação do Espírito, como a remissão dos pecados, o dom de uma lei nova e de uma nova aliança, como se deduz da aproximação que traça entre o Sinai e Pentecostes. A frase de Pedro “A promessa é para vós” (At 2,39) se refere à promessa da salvação, não só da profecia ou de alguns carismas, portanto, uma promessa a todas as famílias. Sendo assim, então, as famílias são chamadas a viver os dons do Espírito Santo no cotidiano da vida.