“Vinde a mim todos vós que estais
cansados e carregados, e eu vos aliviarei.”
(Mt 11,28)
“Não, não é cansaço…
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo…”
(Álvaro de Campos)
Novembro chega como um ritmo de relógio apressado. O ano já se curva ao seu fim e nós, entre prazos, compromissos, relatórios e tantas urgências, sentimos o corpo e a alma pedirem pausa. Há um cansaço que não é apenas físico, é o peso do tempo que passa e parece exigir de nós mais do que podemos oferecer. Vivemos em um mundo que cobra resultados, produtividade e presença constante, sobretudo nas respostas imediatas pelos aplicativos de comunicação ou ainda pela imediatez dos tempos líquidos, mas que pouco nos ensina sobre a arte do repouso interior. Em meio a tanto fazer, esquecemos de simplesmente ser.
É nessa hora que as palavras de Jesus ecoam com ternura: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e carregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). O convite é direto, simples e profundamente humano. Jesus não promete uma vida sem trabalho ou sem dor, mas oferece um modo novo de carregar o fardo. Ele nos convida a colocar em suas mãos aquilo que já não conseguimos sustentar sozinhos. É um apelo à confiança, uma lembrança de que o descanso verdadeiro nasce do encontro com Ele. O alívio que Jesus propõe não está na fuga, mas na presença: é o olhar que acalma, o amor que reorganiza o interior, a paz que não depende das circunstâncias.
O cansaço que nos domina ao fim do ano não é sinal de fraqueza, mas de humanidade. Somos finitos, limitados e é nessa limitação que Deus quer se revelar como força. Quando reconhecemos que não podemos tudo, abrimos espaço para o cuidado divino. Cristo não retira de nós o peso da vida, mas caminha ao nosso lado, sustentando-nos na travessia. É isso que transforma o fardo pesado em jugo suave: a consciência de que não estamos sós.
O fim do ano, com seu sabor de conclusão e balanço, pode ser também tempo de esperança. As folhas do calendário se esgotam, mas a graça de Deus se renova. Em meio ao esgotamento somos convidados a redescobrir o sentido do tempo. Cada novembro é um lembrete de que, ainda que tudo passe, Deus permanece. Ele não apenas nos observa de longe, mas caminha conosco em cada instante, oferecendo descanso à alma e novo sentido aos dias.
Talvez o segredo seja deixar que o coração se aquiete, que o corpo respire, que a alma confie. Antes de buscar mais tempo, precisamos buscar presença. Antes de recomeçar o trabalho, precisamos reaprender a descansar em Deus. Ele não quer que sejamos incansáveis, mas inteiros. Que este fim de ano não seja apenas um período de correrias e listas a cumprir, mas de reencontro com o essencial. Que, entre o cansaço e a esperança, saibamos nos aproximar daquele que é o repouso da alma e o sentido de todos os nossos caminhos.
Senhor, quando o peso do tempo me dobrar os ombros, ensina-me a descansar em ti. Quando o ritmo da vida me deixar sem fôlego, lembra-me que o teu amor é respiro. Que eu reencontre em ti o descanso que nenhuma pausa oferece e que o teu jugo suave me devolva a leveza de ser teu amigo. Amém.