CARNAVAL: O CRISTÃO PODE OU NÃO PARTICIPAR?

Ao abordar o tema Carnaval, surgem os arrastões de foliões, as bandas secularizando seus ritmos, as bandas filarmônicas entoando as marchinhas ou até mesmo os desfiles das escolas de samba, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo. É uma festa popular no Brasil que expressa sons, ritmos, culturas e artes. No entanto, será que o cristão pode participar desses momentos?

As perguntas que envolvem o Carnaval são numerosas e não tão simples de serem respondidas. Convém dizer, em primeiro lugar, que a essência da festa de Carnaval – não na forma como é vista e celebrada hoje – está relacionada ao cristianismo. A origem do Carnaval remonta à Antiguidade, mas é na Idade Média que ganha um sentido mais claro, o de festa de despedida da carne, onde as pessoas se banqueteariam, consumindo diversos tipos de carne para, em seguida, entrar na abstinência durante a Quaresma. O termo Carnaval reflete isso, vindo do Latim: “carnis levale”, que significa “retirar a carne”. Veja! Era uma festa essencialmente ligada ao sentido cristão. Era uma festa normal, com um objetivo bem definido e que, de certa forma, direcionava a atenção das pessoas para o período espiritual da Quaresma.

O Carnaval chegou ao Brasil durante o período colonial, trazido pelos portugueses por volta do século XVI, mas quando chegou aqui, já não tinha mais o significado original de festa de banquetes e despedida da carne. Em vez disso, transformou-se em uma prática de entretenimento, uma brincadeira muito popular em Portugal, que consistia em molhar ou sujar as pessoas. No século XIX, surgiram as marchinhas de Carnaval e, no século XX, o aparecimento das escolas de samba.

Se, quando chegou ao Brasil, o Carnaval já não tinha mais o seu sentido original, ao longo do tempo, naturalmente, adquiriu outros significados. Hoje, o Carnaval é visto como uma festa culturalmente diversa, uma mistura de ritmos, sons, culturas e artes. Em alguns lugares, a cultura e as artes são preservadas de forma saudável, enquanto em outros, os ritmos musicais evocam valores contraproducentes e a ideia de uma sociedade relativista, onde tudo é permitido e as pessoas são livres para escolher o que desejam ser ou viver. Portanto, o Carnaval tornou-se uma festa claramente secularizada, visto que ninguém o celebra pensando na Quaresma, e pior ainda, algumas pessoas o celebram zombando da fé, como exemplificado pela marchinha: “Oh quarta-feira ingrata chega tão depressa só para contrariar”, uma triste referência à Quarta-feira de Cinzas.

Diante do exposto, o cristão deve refletir cuidadosamente sobre sua participação ou não em uma festa de Carnaval. É importante ressaltar que não se deve demonizar tudo e acreditar que nada é apropriado. É necessário fazer uma reflexão sensata sobre o tipo de festa de Carnaval que se deseja frequentar e verificar se isso vai contra seus valores pessoais. Se for uma celebração em família ou um ambiente com pessoas cristãs que respeitem os princípios, não há problema. É crucial recordar as palavras de Dom Henrique Soares, bispo de Palmares/PE, quando questionado sobre a participação de um cristão no Carnaval. Ele disse: “Devemos, então, rejeitar completamente o Carnaval atual? Não há uma resposta definitiva! Se um cristão acredita que pode participar do Carnaval do mundo sem se envolver em excessos, imoralidades ou distrações que o afastem de Deus e da realidade, então que participe com paz! No entanto, eu duvido que isso seja possível, mas é importante respeitar a consciência de cada um! Os cristãos devem preferir celebrar o Carnaval em grupos de cristãos, de maneira pura, serena, inocente e fraterna, com a alegria que nasce de um coração que compreende o verdadeiro sentido da existência”.

As pessoas, incluindo os cristãos, são livres em suas escolhas, mas essas escolhas devem ser guiadas por suas crenças e pelo testemunho que desejam dar em um mundo que cada vez mais deturpa o sentido original das festas, como o Carnaval, por exemplo. Que tal, durante este período, optar por um retiro espiritual? Isso não deixará de proporcionar uma verdadeira alegria e, ao mesmo tempo, preparará melhor para a Quaresma! Esta é uma excelente alternativa durante o período do Carnaval! A decisão é sua!

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