Estamos cansados de adquirir conhecimento somente ou de sermos metralhados por uma quantidade absurda de informações sem que estas estejam, imediatamente, ligadas ao nosso modo de ver a vida, aos nossos critérios para fazermos as nossas escolhas e trilharmos, cada vez mais, um caminho que, a gente já sabe, é feito de escolhas das mais exigentes em nossa história, mas, sobretudo, daquelas que permeiam nosso dia a dia e tocam diretamente o estilo de vida que elegemos nas relações interpessoais, enfrentando os conflitos diários. São, normalmente, escolhas difíceis, que ninguém se engane! Como diz um sacerdote amigo, “Eu quero ver é na vida!”.
Imagino que lhe causará surpresa se eu lhe disser que a castidade é a viga mestra da construção de quem nós somos e da pessoa que decidimos nos tornar.
Exporei tudo com detalhes: castidade é uma palavra quase desconhecida, de tão mal-interpretada que é. Confundida com castração, negação da sexualidade, tem conexão limitante com pessoas de vida religiosa – confundem castidade com celibato – e tantos outros descaminhos rondam seu significado, beleza e aplicação que acabaram nos deixando muito longe de sua finalidade, despreparados para identificar sua necessidade. Pior ainda, a pouca formação cristã e humana que possuímos acabaram por nos privar de riquezas como essas.
Não se preocupe, explicarei melhor. Para começo de conversa, Santo Afonso afirma que “A castidade é uma virtude que não podemos praticar, se Deus no-la não concede. Deus, porém, só a concede aos que a pedem”. A frase de Santo Afonso indica que se trata de uma virtude e, por conta disso, é preciso ficar bem claro que falamos de um bem associado a Deus e, portanto, se desejamos conhecê-la melhor e, mais ainda, trazê-la para a vida concreta é preciso a Deus associarmo-nos, de modo especial – aqui eu indico –, pela oração, pois é Ele quem a concede, uma vez que a peçamos. Aqui, já entendemos, portanto, que a castidade é para todos e é necessário pedi-la. Também é preciso praticá-la, pois o santo esclarece que a castidade é coisa que a gente pode e deve aprimorar pela prática. Esse é um conceito fundamental que deve nos servir para toda a vida cristã. A prática das virtudes é exercício diário de amor.
Como aplicar isso à vida? São João Paulo II, na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, 33, ensina que “A castidade é a energia espiritual que sabe defender o amor dos perigos do egoísmo e da agressividade, sabe promovê-lo para a sua mais plena realização”.
A verdade é que viemos do amor e para o amor somos vocacionados, isto é, chamados a realizá-lo em sua plenitude. Todas as vezes que esse amor for ameaçado por egoísmo, dominação, agressividade e busca de satisfação própria é a castidade a graça que equilibra, ordena e cura o amor em nós, especialmente expressado por meio de nossa afetividade e sexualidade. Quando falta paciência, compreensão, amizade desinteressada, serviço, presença, confiança, afetos, a força do amor que transborda em ajuda, escuta, olhar, compreensão e ternura, é a castidade a graça que fortalece esse modo de comportamento que nos faz parecer com Deus Amor.
Entenda que é por isso que a castidade diz respeito a todos: solteiros, casados, celibatários, sacerdotes, religiosos… Todos somos chamados, cada um em sua condição, a amar. A castidade é a virtude que nos liberta para o amor pleno, exercitado todos os dias, alicerçado na presença de Deus, quem a concede.