A castidade é a virtude que faz com que a sexualidade esteja a serviço do amor. Essa perspectiva ajuda-nos a compreender mais precisamente o significado da integração que caracteriza a castidade: ela é chamada a servir um valor já existente e que interessa preservar, no caso, o amor. A castidade, portanto, também está a serviço do amor. É ele que ocupa o centro; no entanto, o que está no centro do amor verdadeiro é “o desejo de viver para o outro”, desejo que “dá origem à disposição de fazer o que é necessário para permitir que a pessoa que amo tenha espaço para alcançar a autêntica realização humana”. Cabe à virtude da castidade recolher e unificar ao redor do amor todas as energias afetivo-sexuais, assumir que o amor é critério por excelência de juízo sobre a própria sexualidade, fazer com que o amor confira uma orientação concreta de vida e conduta.
A castidade é a virtude que ajuda a colocar o prazer que resulta da interação sexual a serviço do amor. Devendo servir ao bem das pessoas envolvidas na relação, o prazer é sempre meio e não fim, no entanto, isso não é tão fácil de conseguir quando se considera a ambivalência do desejo sexual: a totalidade do seu anseio se defronta com a contingência do prazer por meio do qual procura ser satisfeito. O prazer sexual, por ser tão imediato e concreto, provoca uma espécie de ilusão e insatisfação: prometendo o que não pode dar, ele é incapaz de satisfazer sempre e completamente o desejo de plenitude que as pessoas buscam por meio das relações amorosas. A virtude da castidade, ao situar o prazer num contexto de intimidade interpessoal e orientá-lo para o amor, ajuda a compreender que o sexo pode abrir as portas para uma realidade misteriosa que o transcende: o desejo de uma comunhão que seja plena, como pode ser, por exemplo, a comunhão com o Absoluto.
A virtude da castidade é dom do Espírito e, portanto, graça de Deus, entretanto, o que podemos ser mediante a graça de Deus depende da nossa abertura concreta ao Espírito, que nos educa à plenitude do amor. Nessa perspectiva, a integração da sexualidade depende da capacidade de transcender a própria sexualidade. Em outras palavras, o ponto de referência para a integração não pode ser a própria pessoa, mas aquele que deveria ocupar o centro de tudo, a ponto de a pessoa desejar conformar-se com o seu modo de ser e agir. Ao dar aos seus discípulos um novo mandamento – amar como Ele amou (cf. Jo 13,34) – Jesus se torna o paradigma por excelência de como amar e, consequentemente, o critério à luz do qual toda integração deve ser buscada. A integração da sexualidade, desse modo, não é mais o objetivo primário: ela será resultado de uma relação que exige despojamento e esvaziamento de si para ser possível encher-se de Deus. A castidade, portanto, não tem prioridade absoluta; esse lugar é dado ao amor ao qual ela serve.
A castidade, como virtude moral e dom do Espírito, não aperfeiçoa simplesmente o que temos ou fazemos; ela aperfeiçoa quem somos e, como somos pessoas sexuais em relação com, a castidade aperfeiçoa também as relações que estabelecemos conosco, com os outros, com Deus, com tudo o que nos cerca. Como qualquer outra virtude, a castidade deve-nos ajudar a alcançar a excelência moral. Nessa tarefa, ela precisa do auxílio de outras virtudes, tais como a temperança, a justiça, a fidelidade, o autocuidado, a prudência e, sobretudo, a caridade. Não podemos, no entanto, desconsiderar o fato de que tal excelência, na sua manifestação concreta, será sempre plural.
Referências:
- GENOVESI, Vincent. J. Em busca do amor. Moralidade católica e sexualidade humana. São Paulo: Loyola, 2008, p. 144. Vale a pena notar que o fato de a pessoa colocar o foco da sua atenção e ação na pessoa amada não a diminui em nada e muito menos implica renúncia ao amor a si mesma, pois ela não deixa de ser influenciada por esse relacionamento amoroso. Ao dar de si, a pessoa recebe, enriquece-se e realiza-se, pois essa é a dinâmica do verdadeiro amor: gerar relações de reciprocidade
- CENCINI. Virgindade e celibato, hoje, p. 231.