A Solenidade de Maria, Mãe de Deus, é a mais antiga celebração mariana instituída na Igreja do Ocidente. Em Roma, por volta do século VI, começou-se a celebrar a festa intitulada Natal Sanctae Mariae como uma continuidade das comemorações do Natal. O dia 1º de janeiro, então, tornou-se conhecido como in octava Nativitatis Domini, marcando a recordação do rito realizado oito dias após o nascimento de Jesus, momento em que ele foi circuncidado.
O título “Mãe de Deus” atribuído a Maria é fruto da profunda verdade cristã de que ela gerou Jesus, o Filho de Deus encarnado. O Concílio de Éfeso, em 431, proclamou solenemente Maria como Theotókos, ou seja, mãe de Deus. Essa afirmação teológica expressa a união indissociável das duas naturezas de Cristo – divina e humana – em uma única pessoa. Ao gerar o Verbo de Deus, Maria se tornou, de maneira única e singular, a mãe de Deus.
A maternidade de Maria nos revela a face mais humana de Deus. Ao se unir à nossa humanidade, Ele nos mostra que não está distante de nós, mas se faz próximo em Maria, a mãe de Jesus. Por meio dela, a salvação se torna mais acessível, pois experimentamos a ternura e o cuidado materno de Deus.
A experiência religiosa é uma realidade universal que se manifesta de diferentes maneiras em todas as culturas e tempos. A mensagem de Jesus Cristo, por sua vez, vai além das barreiras culturais e históricas, oferecendo respostas às questões mais profundas do ser humano. Como expressa a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, 22: “O mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente (…) na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime”. Pela encarnação, o Verbo de Deus se aproximou de nós, indicando o caminho para a vida eterna. Essa afirmação do Concílio Vaticano II nos convida a aprofundar nossa relação com Cristo, reconhecendo nele a plena revelação de nossa existência.
O Evangelho nos apresenta a experiência simples e profunda do encontro com o Salvador. Os pastores, após ouvirem o anúncio do anjo, partiram em busca de Belém. Assim, a fé em Cristo Salvador não é uma imposição, mas um convite a uma jornada de descoberta. É ao seguir os passos dos pastores que encontramos o verdadeiro sentido da vida e experimentamos a alegria da salvação.
A visita dos pastores ao Menino Jesus, deitado numa manjedoura, foi um momento de profunda transformação. Ao reconhecerem no menino o Salvador anunciado pelo anjo, experimentaram uma alegria tão intensa que se sentiram impulsionados a compartilhar a Boa-Nova com todos. Essa é a essência da evangelização: testemunhar a alegria do encontro com Cristo.
O Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, convida-nos a experimentar a alegria do encontro com Jesus Cristo. Essa alegria, que preenche o coração e transforma a vida, é a mesma que os pastores experimentaram ao encontrar o Menino Jesus.
Um sinal é dado pelo anjo aos pastores: um menino envolto em faixas e deitado na manjedoura. As faixas que envolvem o menino são um símbolo do Antigo Testamento, como afirmam os padres da Igreja, e também uma referência à morte de Jesus, como nos lembra Lucas: “Envolvendo-o em faixas, deitou-o numa manjedoura” (2,7; 23,53). Ao contemplarmos a cena da natividade somos convidados a renovar nossa fé e a permitir que Cristo nasça em nossos corações.
A manjedoura, onde Jesus foi colocado ao nascer, é também um sinal profundo para reconhecermos o Salvador. Ela simboliza o lugar onde o alimento é oferecido e Jesus, ao se entregar por nós, torna-se o verdadeiro alimento de nossas vidas. Ele se deu completamente para que pudéssemos alcançar a verdadeira plenitude. A Eucaristia é o momento privilegiado em que encontramos o Salvador, pois é nesse Sacramento que Ele nos nutre com sua Palavra, com seu corpo e sangue. O mesmo verbo grego, keiménos, é utilizado para descrever a manjedoura, onde a criança, envolta em faixas, é reclinada (cf. Lc 2,7), e também o sepulcro onde Jesus, envolto em um pano, é colocado (cf. Lc 23,53).
O menino na manjedoura é o mesmo Cristo que será colocado no sepulcro, mas, enquanto na manjedoura o Verbo se fez pequeno para que pudéssemos compreendê-lo, no sepulcro Ele revela que seu amor é absoluto, pleno e sem limites, capaz de vencer até a morte. Em Jesus, o Redentor, encontramos a plenitude da vida. Vida para todos.
Assim como Maria, que conservava e meditava a Palavra de Deus em seu coração (cf. Lc 2,19), que possamos também traduzir nossa fé em atitudes concretas, servindo aos mais necessitados e construindo um mundo mais justo e fraterno.