Uma tentativa acontece a cada 3 segundos. Você sabe como se proteger?
A cabeleireira Maria das Graças (nome fictício) acreditava que seu filho, Marcos (nome fictício) estava seguro no quarto enquanto ela trabalhava. O salão fica na garagem da casa onde eles moram, na zona norte da cidade de São Paulo. O espaço foi adaptado pensando na família e na possibilidade que a profissional teria de ficar mais tempo com o filho. Assim, ela saiu de um grande salão para abrir o seu próprio, realizando um sonho.. Pela manhã, o filho ia de transporte escolar para a escola e, à tarde, ficava com a mãe em casa.
“Pelo fato de ele passar muito tempo sozinho, em casa, resolvi comprar um celular para que ele pudesse jogar, pois o meu eu usava no trabalho. Foi o presente de 8 anos que dei no aniversário dele”, contou a mãe. O menino passou a ficar cada vez mais tempo dentro do quarto e a mãe ia vê-lo sempre que possível, entre um cliente e outro.
Nem um ano se passou e a mãe começou a notar mudanças no comportamento de Marcos. Ele que era um menino alegre, que gostava de conversar com as pessoas, passou a ter atitudes agressivas e falar cada vez menos. “No início, achei que fosse devido à separação vivida há menos de três anos. Uma espécie de reação tardia. Conversei com meu ex-marido para tentar ser mais presente na vida dele. Mas, mesmo com a cooperação do pai, o comportamento dele continuava complicado”, contou.
Após indicação da escola que Marcos frequentava, Maria das Graças resolveu procurar ajuda médica e começou a fazer um acompanhamento terapêutico. Mas muito tempo se passou até que ela conseguisse compreender o menino e as coisas melhorarem. “Após quase dois anos de terapia, conseguimos que ele contasse sobre os assédios que sofreu por meio de um chat de um aplicativo de jogos. Uma pessoa adulta criou um perfil falso e conquistou a confiança do meu filho, pedindo que ele enviasse fotos e vídeos com imagens do corpo dele e que fizesse coisas por chamadas de vídeo. Isso durou quase um ano, até que a pessoa se revelou e o Marcos ficou desesperado. Foi ameaçado para não contar nada para ninguém e assim o fez, por um longo período”, desabafou a mãe.
Crianças e adolescentes são mais vulneráveis
A situação vivida por Maria das Graças e sua família não é um caso isolado. De acordo com a ONG Safernet, em reportagem publicada pela Agência Brasil, em fevereiro de 2024, foram 71.867 denúncias da presença de imagens de abuso e exploração sexual infantil na internet. Em relação a 2022, houve alta de 77,1%. O site do Governo Federal, por sua vez, divulgou que nos primeiros quatro primeiros meses de 2023 o Disque 100 (Disque Direitos Humanos) registrou mais de 17 mil violações sexuais contra crianças e adolescentes.
Mas, os crimes de abuso e importunação sexual não são os únicos tipos praticados de forma virtual. Sites de venda de produtos falsos, serviços e golpes via aplicativos têm ficado cada vez mais comuns e podem fazer vítimas de diferentes idades e classes sociais. Quem nunca recebeu uma ligação estranha de alguém fingindo ser de alguma instituição e oferecendo prêmios ou mesmo um sms pelo celular cobrando uma fatura não paga?
São situações que passaram a ser rotineiras. Mas, não deveria ser assim. A grande questão é a dificuldade que as autoridades competentes têm de identificar e punir os criminosos, que muitas vezes usam perfis e identidades falsas, acobertados pela facilidade que a maioria dos aplicativos e redes sociais oferecem para criar uma conta, por exemplo.
Em seu perfil no Instagram, Sheylli Caleffi dá dicas e orientações sobre como pais e cuidadores podem proteger as crianças de uso indevido de imagens por redes de pedofilia na internet e bloquear contatos de pessoas diretamente às crianças. Ela comenta sobre a superexposição de fotos das crianças em redes sociais, por exemplo, e como monitorar crianças e adolescentes quando eles têm acesso à internet livremente.
Não se torne mais uma vítima
Instituições como o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR – NIC.br foi criado para implementar as decisões e os projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br, que é o responsável por coordenar e integrar as iniciativas e serviços da Internet no País. No site do órgão é possível encontrar textos e vídeos explicativos sobre tipologias de crimes que são praticados na internet, bem como informações sobre como não se tornar mais uma vítima.
Uma das dicas principais dadas pelo site é: desconfiar sempre. A orientação principal é a de que é preciso desconfiar, manter a calma e conferir se a mensagem recebida ou o conteúdo visto na Internet são confiáveis. Mas, nem sempre isso é uma tarefa simples. Paulo Rodrigues, professor de matemática da rede pública de São Paulo, contou à reportagem que, em 2021, caiu num golpe de um site falso de uma grande loja de venda de eletrodomésticos. “”Eu fiz uma busca pela internet de um celular que eu queria comprar, chequei o site, vi, inclusive que tinha aquele selo de segurança no rodapé e comprei. Nunca recebi o celular, nem o dinheiro de volta. Era um site falso”.
Situação parecida foi vivida por Solange Silva, que em 2022 sofreu um golpe ao tentar comprar um celular importado. “A empresa se chamava @importejabrazil. Eu estava seguindo algumas páginas no Instagram que trabalhavam com importação de iphones. Essa página me pareceu confiável. Fiquei seguindo e observando por uns 6 meses. Então, vi uma promoção boa de um iphone 11 por R$2.250,00. Entrei no site deles e comprei. Paguei com pix. Até então tudo parecia normal. Mandaram, inclusive, o código de rastreio do produto. Tinham dito que o produto não seria taxado e que caso fosse, eles assumiram a taxação. Passaram-se alguns meses e só então eu me dei conta que tinha caído em um golpe. Recebi a notificação de que o produto tinha sido taxado, eles não assumiram a taxação, me deram a opção de pagar mais 500 reais ou esperar o iphone voltar pra eles e eles me reembolsarem. Eu optei pela devolução e até hoje estou sem o iphone e sem o dinheiro. Eles me bloquearam no instagram e no whatsapp, não responderam e-mail e impediram a possibilidade de qualquer contato. Aí fui ver no reclame aqui e o que mais tem é reclamação dessa empresa. Pois é, fiquei no prejuízo”, contou. Segundo a Serasa Experian, só no final do ano passado, foram registradas 837.419 tentativas de fraudes contra consumidores e empresas nacionais, uma a cada 3,2 segundos.
Dicas para não cair em golpes online
- Pesquise sempre. Antes de usar qualquer serviço de uma empresa, procure avaliações nos sites mais conhecidos do mercado e verifique se ela é idônea e cumpre tudo que está previsto em contratos;
- Desconfie sempre das ofertas recebidas por preços extremamente atrativos, recebidas por WhatsApp, SMS ou e-mail;
- Nunca compartilhe links e arquivos que chegam para você via comunicador instantâneo ou redes sociais. Um simples “clique” pode contaminar seu celular ou computador com vírus ou roubo de dados;
- Não dê informações pessoais por telefone sem antes verificar com quem você está conversando;
- Senhas são pessoais, secretas e intransferíveis. Nunca forneça a ninguém;
- Confirme sempre com amigos ou familiares pedidos de transferência ou pagamento via Pix. É comum que os contatos sejam clonados e você acredite que esteja conversando com alguém conhecido. Uma forma de fazer isso é por uma chamada de vídeo, por exemplo. Infelizmente, com a Inteligência Artificial, até mesmo a voz das pessoas é clonada. Uma forma simples de fazer isso, é combinar, com as pessoas próximas, palavras código para verificação diante de uma emergência, por exemplo;
- Acompanhe a movimentação de sua conta e seus investimentos constantemente. Se houver qualquer sinal de fraude, acione sua instituição financeira imediatamente.
Com informações do site Grupo Euro 17