JESUS NO BANCO DA PRAÇA

Num domingo, depois da Missa da noite, saí pela porta dos fundos do santuário e a praça já estava vazia. Somente um senhor idoso, de barbas brancas e chinelos nos pés, ocupava um dos bancos, ao lado do coreto.

Ao passar perto dele, chamou-me e perguntou: “Você é o novo padre que veio para cá?”. “Sim”, respondi. “Que bom. Acho que vai gostar daqui. O povo é muito acolhedor e ajuda a gente quando precisamos”, disse ele. Senti no meu coração que deveria ficar mais tempo conversando com ele. Sentei-me ao seu lado e perguntei-lhe: “O senhor mora por aqui?”. Ele ficou um tempinho em silêncio e sorriu, depois disse: “Eu passo a maior parte do tempo nesta praça. Depois das dez da noite, volto para o bairro onde tenho uma casa pequena, de dois cômodos”. Quis saber o porquê de ficar tanto tempo na praça. “Tenho uma filha aqui, mas moro sozinho depois que minha mulher faleceu. Ela tem sua família. Não gosto de dar trabalho para ela, por isso fico por aqui perto do santuário, onde meus amigos vêm conversar comigo. Assim, os dias vão passando mais depressa. Posso lhe contar uma coisa? Quando me casei, trabalhava em uma fábrica cerâmica logo ali, a três ruas da praça. Eu cortava lenha para queimar os tijolos e as telhas. Tinha uma carroça e meu serviço era esse. Naquele tempo eu saía cedo, cortava lenha, descarregava e ia para casa feliz para encontrar minha esposa. Não demorou muitos meses e ela ficou grávida, então falei para ela que queria um menino. Acho que é normal a gente que é homem querer ter meninos, padre, porque podem ajudar a gente no serviço mais pesado. Quando a criança nasceu, veio a surpresa para mim: era uma menina. Não tenho vergonha de dizer: fiquei muito bravo com minha esposa e com Deus. Por que Ele não atendera ao meu pedido? Hoje me arrependo de não ter acolhido minha filha como ela merecia. Estava realmente revoltado. Jogava na cara de minha mulher como se ela fosse a culpada de a criança ser menina. Mas, sabe o que aconteceu no ano seguinte? Ela ficou grávida de novo. Tornei a pedir para Deus mandar um menino para me ajudar no corte de lenha. E ele me ouviu. Nasceu um filho lindo, de olhos azuis, com muita saúde e isso me deixou muito feliz com Deus. Nós vínhamos todos os dias a esta praça. Ele corria, abraça-me, brincava no coreto, rezava em frente ao santuário. Não imaginava a tragédia que aconteceria anos depois: meu filho, já crescido, com 12 anos, ia comigo para as terras do dono da fábrica de cerâmica para o corte da lenha. Passávamos o dia juntos e isso era a minha felicidade, até que, numa manhã, derrubei um galho grande e ele caiu sobre meu menino. Não teve jeito. Ele veio a falecer! Isso foi o fim da minha vida. Nunca mais tive alegria”, falou o homem.

Lágrimas caíam de seus olhos e dos meus também. Então, disse-me uma frase que ficou gravada em meu coração naquela noite, pois senti que Jesus falava comigo através daquele homem sofrido: “A gente deve aceitar o que Deus manda para nós. Eu errei. Não aceitei, num primeiro momento, a filha que Ele me deu e hoje é ela quem cuida de mim!”.

Falei que o Pai do Céu sentia por ele um amor infinitamente maior do que o amor que ele tinha pelo seu filho. Disse ainda que o menino estava junto dos anjos de Deus, morando lá com eles. Isso fez voltar um pouco o brilho nos seus olhos.

Ficamos juntos por mais de uma hora. Sinto que o consolei com as minhas palavras, contudo, fui muito mais consolado por Deus. Aprendi que devemos aceitar, com gratidão, a vontade de Deus na nossa vida. Ele sempre quer o melhor para nós. Como foi bom, naquela noite, sentar no banco da praça ao lado de Jesus!

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