Há dias em que a esperança parece escassa, quase uma lembrança distante. A gente acorda e o noticiário já vem carregado: guerras que não cessam, jovens que desistem da vida, do futuro, famílias que se desencontram, a criação clamando por socorro, gemendo como em dores de parto (cf. Rm 8,22). Tudo parece tão frágil, inclusive a fé. Quando o mundo se agita assim, com tanto barulho e dor, o coração anseia por um silêncio que cura, por um olhar que abraça, por uma presença que sustenta. É nesse ponto do caminho que Maria aparece. Não com fanfarras, mas com o passo leve das mães que sabem esperar.
Maria é essa esperança que caminha de mansinho. Não fala alto, mas diz tudo. Não impõe, mas revela. Não explica, mas sustenta. No coração do Jubileu da Esperança que a Igreja vive em 2025, ela brilha como estrela-guia na noite escura. Brilha porque aprendeu a esperar, porque confiou mesmo quando não compreendeu, porque soube que a esperança não nasce da ausência de dor, mas da presença fiel de Deus que caminha conosco, mesmo quando parece calado.
A vida de Maria é um fio contínuo de esperança tecida com fé. Quando o anjo a visitou, não havia lógica nem segurança, só um chamado e a possibilidade de confiar. E ela confiou, disse “sim”, o “sim” que abriu caminho para a salvação. Depois, não se recolheu: partiu apressadamente para visitar Isabel, porque a esperança que ela vivia não era passiva, era gesto, era serviço, era cuidado com o outro (cf. Lc 1)
Mais tarde, em Caná, ela percebeu que o vinho havia acabado. Maria sempre nota o que falta. Mesmo quando Jesus lhe respondeu que ainda não era chegada a hora, ela acreditou. Falou aos servos com simplicidade firme: “Fazei tudo o que ele vos disser” (cf. Jo 2,1-11) Ali, a esperança se transformou em milagre, porque a esperança de Maria tem essa ousadia: ela acredita antes de o milagre acontecer.
Quando precisou fugir para o Egito, com o Menino nos braços, Maria ensinou que a esperança também corre, também protege, também chora. Foi exilada, migrante, mãe no escuro, mas seguiu. Porque quem espera em Deus nunca caminha sozinho, mesmo quando está só (cf. Mt 2,13-23).
Anos depois, perdeu Jesus no templo. Três dias sem entender, sem respostas. Três dias de angústia e silêncio, mas ela não se revoltou. Procurou. Buscou. Esperou e encontrou, porque a esperança dela é assim: paciente, fiel, perseverante (cf. Lc 2,41-52).
Mas é no Calvário que a esperança de Maria alcançou sua maturidade mais dolorosa e mais luminosa. Todos fugiram, ou quase todos, mas ela ficou. Permaneceu de pé. Aos pés da cruz, o coração dilacerado, mas o olhar fixo. Maria não entendeu tudo, mas continuou crendo. Ali, naquele momento em que tudo parecia perdido, ela revelou o mais profundo mistério da esperança cristã: a certeza de que o amor é mais forte do que a morte. De que a cruz não é o fim, mas a passagem, de que Deus não abandona seus filhos, ainda que o silêncio doa (cf. Jo 19,25-27).
Então veio o Sábado Santo. O tempo do “ainda não, do vazio, da ausência, da espera sem garantias. E ela, mais uma vez, estava lá. Calada. Presente. Firme. Guardando em si a esperança de toda a Igreja. Maria é a mãe do Sábado Santo. A guardiã da fé no tempo em que tudo parece acabado.
Talvez por isso ela seja, para nós, hoje, mais necessária do que nunca. Quando o mundo estremece, quando a vida escurece, quando o coração vacila, é para ela que devemos olhar. Não como quem espera uma solução mágica, mas como quem aprende a confiar mesmo sem ver, a seguir mesmo sem mapa, a crer que a madrugada da ressurreição virá, mesmo que agora seja noite.
Maria nos ensina que a esperança é feita de pequenos gestos: um “sim” dito em silêncio, uma visita inesperada, um conselho ao pé do ouvido, uma oração com lágrimas. Ela é a mãe que caminha conosco, não apenas quando tudo vai bem, mas principalmente quando tudo desmorona, por isso, sua presença é bálsamo, é âncora, é luz discreta, mas firme no meio do caos.
Neste tempo de jubileu, em que somos chamados a recomeçar, talvez a maior graça seja redescobrir a esperança pelas mãos de Maria. Ela, que atravessou todas as dores com fé, pode nos ensinar a resistir, a confiar, a recomeçar. Mais ainda: pode nos ensinar a permanecer de pé, mesmo aos pés das nossas cruzes.
Porque a esperança que vem de Maria não é ilusão, é promessa cumprida. É vida que brota onde ninguém mais acreditava. É Deus, que chega devagar, mas nunca se atrasa.