A Virgem Maria está no centro do mistério de nossa salvação. De fato, a encarnação do Verbo é, para nós cristãos, o epicentro da economia salvífica e o mistério da vocação de Maria se situa precisamente aí. A Carta de São Paulo aos Gálatas atesta que Jesus, o Filho de Deus, nasceu de uma mulher (Gl 4,4). Aqui está garantida a concretude do evento da encarnação que se operou sobre o solo desta Terra. Compreende-se, assim, que a maternidade de Maria está estritamente vinculada ao mistério da encarnação e, por isso, situa-se no núcleo do mistério cristão.
O Concílio de Éfeso (431 d.C.), perante a heresia nestoriana, definiu que Maria é Mãe de Deus, Theotókos. Essa afirmação de fé tem como conteúdo a própria identidade de Jesus Cristo, o filho de Maria. Jesus, conforme cremos, é o Filho de Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, cuja unidade de pessoa comporta a duplicidade de naturezas, a humana e a divina. Maria, sendo mãe da pessoa de Jesus, é, por conseguinte, a mãe de Deus. Observa-se, nesse âmbito, um sentido personalista da abordagem deste dogma.
A importância do tema concerne à sua relevância cristológica. Afirmar a maternidade divina de Maria é confessar a divindade de seu Filho Jesus, o qual a Virgem gerou segundo a carne sem a intervenção humana. O Concílio de Éfeso afirmou que o entendimento dos santos padres compreendia Maria como Theotókos “(…) não no sentido de que a natureza do Verbo ou sua divindade tenham tido origem da santa Virgem, mas no sentido de que, por ter recebido dela o santo corpo dotado de alma racional ao qual também estava unido segundo a hipóstase, o Verbo se diz nascido segundo a carne” (DH 251).
Nesse sentido, considerando a virgindade e a maternidade divina de Maria, o teólogo Joseph Ratzinger, Papa Emérito Bento XVI, observou que “As duas coisas estão estritamente ligadas: quando ela é chamada de Mãe de Deus, isso constitui, antes de tudo, uma unidade entre ser-Deus e ser-homem em Cristo, que é tão profunda que não se pode, para os eventos carnais, como aquele do seu nascimento, construir um Cristo meramente humano, separado da totalidade de sua existência pessoal” (Joseph Ratzinger, A filha de Sião, p. 25). Não é possível destilar em Jesus a humanidade e a divindade como se caracterizassem elementos separados e periféricos. Precisamente aqui, afirma-se a unidade da pessoa de Jesus com todos os desdobramentos antropológicos e soteriológicos, isto é, com toda a sua significância para nós, seres humanos, e para a nossa salvação.
Afirmar que Maria é a mãe de Deus é de tamanha relevância para a fé cristã que, além de ser um dogma definido no século V, integrou o calendário litúrgico como a primeira festa mariana da Igreja no Ocidente.
Celebramos, ao início de um novo ano civil, a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. Nesse contexto somos conduzidos a contemplar em Maria uma maternidade expansiva que atinge a todos nós. De fato, ao associar-nos a seu corpo, Cristo Jesus nos concedeu o dom de invocá-la como a nossa querida Mãe. Conforme testemunha o evangelista São João, Jesus diz ao discípulo que Ele ama: “Eis a tua mãe!” (Jo 19,27). O discípulo acolheu Maria como a sua mãe, demonstrando que a atitude própria dos seguidores de Jesus é perfazer o caminho de fé com a companhia da Virgem Maria e sob a sua proteção materna.