Estimado leitor da Revista Ave Maria, começo nossa reflexão mensal de dezembro, mês da Sagrada Família, convidando você e sua família a não julgar os seus e, sim, promover uma cultura do cuidado.
“Não julgueis, e não sereis julgados (…). Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles.” (Mateus 7,1.12): o primeiro e o último versículo da leitura proposta de hoje se complementam de maneira perfeita e divina. Afinal, você gosta de ser julgado, criticado ou subestimado? Seja lá qual for o quesito, mesmo quando sei que não sou bom em algo ou que falhei gravemente, a última coisa que quero é um julgamento sobre minha falha. Pois bem, como me comporto perante o erro, fraqueza ou falha do meu irmão e irmã? Estou verdadeiramente agindo da forma como gostaria que alguém agisse comigo?
O que nós, todos nós, precisamos é de suporte e direcionamento para que possamos crescer constantemente de forma individual e comunitária, por isso, uma crítica, ou mesmo um julgamento das minhas ações (nunca da minha pessoa), sem um complemento, em que o meu crítico, verdadeiramente, disponibiliza-se a me ajudar com certeza não é uma atitude cristã.
A convivência por mais tempo com o outro proporciona uma proximidade que, ao mesmo tempo em que torna as pessoas daquele grupo mais conhecidas entre si, pode também proporcionar a revelação do “eu”, puro e sem máscaras, que muitas vezes confrontará outros “eus”, por isso, nessa convivência em comunidade certamente acontecerão discordâncias, atritos, conflitos que podem até “quebrar” aquele encanto inicial da acolhida celular. É nesse momento que aquele grupo inicial, aquela célula, começará o processo de maturidade, de superação das diferenças, do deixar prevalecer o “nós” e morrer o “eu”. Será preciso ter paciência com o outro, paciência consigo e paciência com o tempo, tal como o agricultor que planta, rega, cuida e somente depois de muito tempo de paciência vê sua planta florir.
Se avançarmos um pouco mais sobre a passagem proposta, nos versículos 13 e 14 do Evangelho de São Mateus, capítulo 7, vemos que Jesus complementa, dizendo que isso não será fácil, pois estreita e apertada é a porta do caminho da vida e são poucos os que por ela passam, enquanto a porta que leva a perdição é larga e espaçosa. Aceitar as formas de orar, de pensar, de agir, de opinar de outras pessoas pode ser uma tarefa muito difícil, principalmente quando isso confronta diretamente nossa forma de fazer tais coisas e se disponibilizar a ajudar o irmão ou irmã que inicia a caminhada a se desafiar e crescer demanda muito tempo, esforço, carinho, paciência e amor.
Como Jesus agiu perante as limitações de seus discípulos, que Ele, como Deus e conhecedor de tudo, sabia que existia neles? Ele os julgou? Subestimou-os? Não! Ele os desafiou todos os dias a se superar e ser melhores. Não subestimou nenhum deles, muito pelo contrário, enviou-os para que falassem em nome dele, agissem em nome dele (cf. Mc 6,7). Formou-os e enviou-os como apóstolos, que quer dizer mensageiros, ou seja, confiou a eles a missão de propagar a notícia mais importante do mundo, a Boa-Nova.
Sendo assim, quem somos nós para subestimar alguém, sobretudo aqueles que estão com a gente todos os dias e nos momentos de alegria e tristeza? É preciso que tenhamos muito cuidado para não transformarmos nosso crescimento espiritual ou nosso serviço em uma escada, na qual subimos e nos sentimos superiores quando olhamos os demais irmãos no degrau abaixo. Precisamos lembrar o que o próprio Cristo, como mestre, fez pelos seus, lavando seus pés (cf. Jo 13,5-9) e explicando como o Reino de Deus funciona, onde o que quer ser o primeiro deve ser servo de todos (cf. Mc 10,43-45).
Precisamos ser diferentes como cristãos, precisamos apoiar e estimular o crescimento de todos, pois somente assim nossa comunidade irá prosperar, sobretudo, nossa família.