Nossa Senhora Aparecida: Mãe dos de coração simples

Interessante, curioso e até difícil pensar que a partir de um momento de frustração um encontro pode acontecer e que, a partir dele, tudo pode ser transformado e daí nascer algo que se prolonga por mais de três séculos. O ano era 1717; três simples homens, pescadores – Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedroso – enfrentaram um momento de frustração. Após várias tentativas de pesca sem sucesso, algo inesperado aconteceu: em suas redes, encontraram o corpo de uma pequena imagem de barro, sem a cabeça. Ao lançarem as redes novamente, recuperaram a cabeça da imagem. Uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Depois desse encontro, as redes se encheram de peixes e o milagre ficou marcado como o primeiro sinal da intercessão de Nossa Senhora, aparecida das águas. 

A simplicidade dos pescadores e sua fé foram elementos centrais nesse milagre, que trouxe esperança em meio às dificuldades. Nesse fato, o grande amor de Deus é demonstrado. Ele, em sua infinita bondade, manifesta-se aos humildes e simples de coração, como os pescadores. Nossa Senhora Aparecida, a mãe de Deus, aproximou-se de maneira especial dos pobres e marginalizados por meio desse episódio, tornando-se, para muitos, um sinal claro do amor de Deus.

A devoção a Nossa Senhora Aparecida cresceu rapidamente entre os mais simples, pois Maria é aquela que acolhe os pequenos e os aflitos. O próprio São João Paulo II assim afirmou: “Maria está no centro do mistério da Igreja porque é a mãe de Cristo” (Carta Encíclica Redemptoris Mater, 22). Ela é, portanto, a mãe de todos, mas seu olhar se volta de maneira especial aos mais necessitados. Os pobres e humildes, que muitas vezes vivem em meio ao sofrimento e à dificuldade, são os que mais acolhem a Boa-Nova de Deus, pois, como o próprio Jesus disse nas páginas do santo Evangelho, “Eu te louvo, Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste essas coisas dos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25).

São os corações simples e os pobres que mais acolhem os sinais do amor de Deus. A devoção a Nossa Senhora Aparecida tornou-se, para essas pessoas, uma fonte de consolo e esperança. Maria, que viveu na simplicidade de Nazaré, conhece as dores e dificuldades do povo. Ela, que experimentou o sofrimento e a humildade, é a mãe que intercede e protege. A espiritualidade em torno de Nossa Senhora Aparecida revela-se como uma fé viva, que transcende as dificuldades e encontra força na esperança e no amor.

A espiritualidade mariana tem grande importância para o povo brasileiro, especialmente para os mais simples, pois simboliza a fé perseverante de um povo que, mesmo em meio às dificuldades, encontra na intercessão de Maria um caminho de esperança. Como nos lembra a Constituição Dogmática Lumen Gentium, “Ela é saudada como membro eminente e singular da Igreja e como seu modelo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade” (53). Nossa Senhora Aparecida é essa mãe que guia o povo de Deus, especialmente os que mais sofrem, para mais perto de Cristo.

Assim, ao celebrarmos sua solenidade no dia 12 de outubro, recordamos o papel fundamental dessa devoção, que une o Brasil em torno da simplicidade e do amor de uma mãe que intercede por seus filhos em todas as suas necessidades. Nossa Senhora Aparecida é o refúgio dos pequenos, a esperança dos aflitos e o símbolo da fé simples e perseverante de um povo que confia no poder de Deus.

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