A santidade, mais do que um conceito ou uma devoção, é um estilo de vida, um modo de viver inspirado no Evangelho. É a presença de Cristo que se espalha pelo mundo manifestando a riqueza de seu amor, que se expressa no perdão, na misericórdia, no serviço, na alegria, na esperança, no compromisso, na luta, na unidade e plenitude, na sabedoria, na acolhida, sobretudo no saber viver a vida.
A santidade é possível? Ela não é privilégio de alguns, destino já definido por Deus para alguns privilegiados. Não se trata de algo impossível para pessoas comuns. Cristo não nos pede o impossível. Devemo-nos, isto sim, rever certo conceito de santidade que circula normalmente entre o povo, um conceito de que santidade é manifestação de êxtase, milagres, visões e dons extraordinários. A santidade não reside nisso.
A santidade está no perfeito amor. Nossa vocação como cristãos é o amor, o que significa dizer ser santos. Ser santo é amar. Amar é que nos faz viver e expressar a santidade, portanto, a santidade é uma possibilidade de cada um de nós. São muitos os que a atingiram, pois responderam com amor ao amor que lhe foi revelado.
Os santos que a Igreja proclama são pessoas que levaram a sério a sua vocação de cristãos e responderam de modo concreto aos desafios dos tempos. São pessoas que deram um significativo contributo para o desenvolvimento dos povos por meio de atos concretos que superaram as condições e limites do próprio contexto em que viveram.
Deus não pede menos para cada um de nós. Para muitos cristãos é necessária uma nova conversão, é preciso que recoloquemos a vida sobre seu verdadeiro eixo e assim fazer resplandecer através dos tempos e de nossas atividades e inesgotável presença de Cristo. Assim viveram os santos que veneramos, heróis do amor que souberam dizer com a vida o que é verdadeiramente necessário.
O exemplo dos santos nos enriquece como seres humanos e cristãos. Podemos descobrir neles um estímulo para o nosso crescimento e uma nova luz para aprender sempre mais o que significa ser cristão também nos tempos de hoje, que por um lado nos lançam contra a vida e por outro clamam incessantemente por ela, vida que só Cristo pode nos dar e que antes, como hoje, são muitos a encontrá-la.
Pensemos em nossa vocação. Um dia, de algum modo, sentimos o convite de Jesus para deixar tudo. Talvez de um modo sutil, suave, que nos fez perceber a beleza de uma vida diferente da que até então tínhamos concebido, uma vida completamente para Deus e para a humanidade, que reservaria também incógnitas e dores, mas, pela qual irresistivelmente nos sentimos atraídos.
Nossa história de chamado é também uma coisa fulgurante e extraordinária, que nos apanha num momento especial da vida, qualquer que seja a condição espiritual em que possamos nos encontrar.
Entre os seus colaboradores, Deus chama também os pecadores, pessoas que, embora tenham vivido experiências negativas, não ficaram parados nelas, souberam superá-las. Muitas histórias de santidade que embelezaram a Igreja e produziram muitos frutos nela vieram de vidas assim.
A vocação não é algo acidental, mas, substancial; toca o ser humano no seu íntimo, uma espécie de nova criação. Quando alguém responde ao amor de Deus, que o chama com um ato de amor, acontece como que um ato esponsal espiritual entre os dois, é um dom total.
Pode ser que, às vezes, por parte do ser humano, falte a fidelidade. Pedro, o apóstolo por excelência, renegou o Mestre e também os outros discípulos o abandonaram na sua paixão. O chamado não implica uma perfeição completamente alcançada; ao contrário, exige a correspondência diária e se necessário recomeçar, pois é um processo dinâmico.
“Sede santos porque eu sou santo!” (Lv 11,44): esta é a nossa vocação e missão. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, que é santo, é o amor, a misericórdia. Vamos manter e desenvolver em nós essa nossa verdadeira identidade e assim vamos aprendendo o que é viver.