Ainda sobre o sexto mandamento da Lei de Deus, ele é compreendido como “Não pecar contra a castidade”, porém esta é uma visão ampliada desse mandamento. Já em sentido específico, pode-se afirmar: “Não cometerás adultério” (Ex 20,14). E isso tudo são formas de chamar a atenção para que o homem e a mulher, criados à imagem e semelhança de Deus, tenham vida digna e feliz.
Na origem de tudo, Deus, ao criar o homem e a mulher, conferiu-lhes uma dignidade singular: a de serem seus filhos, criados no amor e para o amor. Um amor genuíno, oferta total de um Deus que cria porque ama e ama o que criou! Sendo imagens do amor de Deus, homem e mulher, quando se unem em matrimônio, vivem a máxima expressão do amor humano — uma união indissolúvel, que lhes confere plena dignidade enquanto pessoa humana. O Catecismo da Igreja Católica, no número 2335, ensina que “cada um dos dois sexos é, com igual dignidade, embora de modo diferente, imagem do poder e da ternura de Deus. A união do homem e da mulher no matrimônio é um modo de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador: ‘O homem deixará o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne’ (Gn 2,24). Desta união procedem todas as gerações humanas”.
Por ser tão fortemente unida por meio da aliança conjugal, essa união gera uma fecundidade imensa — não somente por meio dos filhos, mas também pela geração da paz, da bondade, da ternura, da responsabilidade e da felicidade.
Viver o amor segundo a vontade de Deus implica reconhecer uma dignidade que tende ao infinito, visto que o amor não se quantifica; isto é, não se pode medir, mas tão somente experienciá-lo através de atitudes livres, que partem do coração de quem verdadeiramente ama, de modo a satisfazer a pessoa amada. Amar é uma bela decisão, tendo em vista sempre o reconhecimento da dignidade do outro enquanto filho e filha de Deus. É pensando nisso que a Igreja defende a castidade como uma forma bonita de amar. E, diga-se de passagem, castidade não é somente para os solteiros — é também para os casados. Uma das formas de as pessoas casadas viverem a castidade é não cometendo o adultério.
“O adultério consiste em duas pessoas se tornarem íntimas, sendo pelo menos uma delas casada com outra. O adultério é a traição fundamental no amor, a ruptura de uma aliança feita diante de Deus e uma injustiça para com o próximo”, afirma o Catecismo Jovem da Igreja Católica, no número 424, acrescentando que “o próprio Jesus determinou expressamente a indissolubilidade do matrimônio: ‘O que Deus uniu, o homem não deve separar’ (Mc 10,9)”.
Trair a pessoa amada é não somente ferir a dignidade dela, mas também a sua. É trair a sua consciência moral e cristã. Lembre-se: você decidiu-se livremente casar com aquela pessoa, então seja fiel até o fim, como prometeu no dia do seu matrimônio, diante do altar do Senhor: “Prometo ser fiel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amar-te e respeitar-te todos os dias da minha vida”.
Não se engane: o demônio, o pai da divisão, não gosta de gente séria, que vive a fidelidade em seu estado de vida — a exemplo do matrimônio —, e por isso ele vai tentar você, colocando pessoas e situações para que possa cair. Porém, resista às tentações por meio da oração e fuja das ocasiões de pecado.
A fidelidade conjugal torna-se sinônimo de felicidade, assim como a infidelidade se torna sinônimo de infelicidade. Parece até uma rima, mas não é apenas isso: é uma realidade. Quem trai não é feliz. A felicidade é consequência da ordem, daquilo que está ordenado à normalidade. Fora disso, é cair num grande precipício. O filósofo francês Paul Ricoeur comentava que tudo o que torna fácil o encontro sexual promove ao mesmo tempo a sua queda no precipício da insignificância.
Todo “sim” ao verdadeiro amor tem frutos boníssimos, assim como toda traição tem consequências amargas. Por isso, a Palavra de Deus é tão pertinente: “Ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a tua posteridade” (Dt 30,19).
Assim sendo, ao salvaguardar o amor juntamente com a pessoa que você escolheu amar, salvaguarda também a dignidade dela e a sua, pois quem ama não trai o outro nem a si mesmo — e é feliz para sempre!