Perdoar é um caminho desafiador, uma tarefa que, muitas vezes, revela-se árdua diante das feridas profundas infligidas por aqueles mais próximos a nós, como familiares e amigos. Em alguns casos, o distanciamento se instala, deixando relações abaladas, enquanto em situações mais graves somos marcados pela violência que permeia essas conexões.
Contudo, a decisão ética de perdoar vai além do mero relacionamento interpessoal; ela implica interromper o ciclo tóxico do desgosto, do ódio e da vingança, que perpetua o ciclo de violência e sofrimento.
Nessa jornada de perdão, olhamos para o exemplo de Jesus, que, mesmo sendo injustiçado e crucificado, proferiu as palavras “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Ele nos ensinou que o perdão é uma escolha poderosa que transcende as injustiças, promovendo a reconciliação e a cura.
A extensão desse princípio cristão perpassa a reconciliação e a justiça para as pessoas mais descartadas da sociedade, da vida e missão da Igreja e do convívio familiar. A reconciliação é a cura das relações sociais feridas a partir do respeito à diversidade. Jesus acolheu todas as pessoas, independentemente de sua origem, religião, gênero, status social ou passado. Nele encontramos uma absoluta atitude de amor e inclusão. Ao perdoar e respeitar a diversidade, seguimos o exemplo daquele que ensinou que o amor supera todas as barreiras porque a reconciliação passa por toda forma de amor.
O perdão, em sua essência, é um ato libertador. Ele não apenas redime o ofensor, mas, também, resgata o ofendido do peso do rancor, livrando-o do constante regurgitar da dor infligida. Apegar-se de forma doentia a uma relação ferida só serve para ocupar a mente e o coração, impedindo a abertura para outras relações e possibilidades de vida. Ao perdoar, encontramos a liberdade para explorar novos horizontes emocionais e construir conexões saudáveis. Ao mesmo tempo é crucial não infligir a si mesmo e aos demais a culpa pela suposta “inabilidade” em perdoar. Cada pessoa tem seus próprios tempos e limites emocionais e, quando profundamente machucadas, podem carregar cicatrizes ao longo da vida.
O perdão não é um processo linear. Na verdade é um caminho sinuoso que exige tempo, compreensão e compaixão. Reconhecer a própria vulnerabilidade e aceitar que o perdão é um processo gradual permite uma abordagem mais compassiva consigo mesmo e com os demais.
De fato, perdoar não é simplesmente absolver o erro alheio. Trata-se de uma jornada interna de cura que nos liberta das correntes emocionais que nos prendem ao passado. É uma escolha ética que transcende o desejo de retribuição, oferecendo a oportunidade de construir um presente e um futuro mais saudáveis.
Perdoar e respeitar a diversidade são pilares fundamentais para construir uma sociedade e relacionamentos saudáveis. Essas atitudes não apenas promovem a paz interior, também contribuem para a construção de comunidades mais compassivas e empáticas. Ao seguir os ensinamentos de Jesus somos desafiados a transcender as diferenças, nutrindo um espírito de perdão e aceitação que fortalece a harmonia e a diversidade em nosso convívio.