ROSÁRIO: O CAMINHO DE ENCONTRO E COMUNHÃO COM DEUS E COM OS OUTROS

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Em 8 de agosto, a Igreja recorda Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Pregadores. Conhecido como Apóstolo do Rosário, São Domingos viveu na mesma época que São Francisco de Assis e é lembrado por ter se dedicado intensamente à oração e à pregação da Palavra de Deus. 

Segundo a tradição, Nossa Senhora teria aparecido a São Domingos por volta do ano 1214, revelando-lhe a oração do Rosário. O santo participou do 4º Concílio de Latrão, em Roma, e na ocasião apresentou ao Papa seu projeto de fundar uma nova ordem, que foi aprovada em 1217, nascendo, assim, os dominicanos, ou seja, seguidores de São Domingos Gusmão. 

Após treze anos da sua morte, Gregório IX, que o havia conhecido pessoalmente, canonizou-o. Hoje, homens e mulheres continuam no mundo a missão de rezar o Rosário, confiando a Maria suas dores e esperanças. 

Há quem se converteu na vida adulta, quem reza o Terço a caminho da escola, quem deve sua vida e libertação dos vícios a Maria e quem, como Agnese Conte, recebeu, por meio da oração do Terço, graças para outras pessoas em momentos de desespero. O que todos têm em comum, sem dúvida, é a fé de que a oração do Rosário, desde São Domingos Gusmão, continua atual e essencial para cultivar a espiritualidade cristã. 

ORAÇÃO E CONVERSÃO

Mariluz Marçolla Ferreira Avrechack, 26 anos, mora no interior de São Paulo e é coordenadora da Pastoral da Catequese e integrante da Pastoral da Música Litúrgica em sua paróquia. Em entrevista à reportagem, Mariluz contou que não nasceu em uma família católica e que sua conversão se deu na vida adulta, com base em apreciação de testemunhos de fé e em estudos. 

“A oração do santo Terço sempre pareceu algo distante e inabitual. Contudo, ao viver mais intensamente a vida na Igreja, percebi que a prática me aproximaria de Maria e, assim, passei a orar. Nesses momentos, aproximo-me dela e crio mais intimidade com Deus, como se conversasse com Ele por intermédio de sua mãe”, disse.

Professora, ela costuma rezar pelo menos três vezes na semana, sendo o tempo de oração por volta de vinte a 25 minutos. “É mais raro conseguir rezar o Rosário completo, porém, é algo que ainda intento realizar. O santo Terço costumo rezar a noite, com dias específicos demarcados na agenda: se uma semana foi terça, quinta e sábado, na outra semana será segunda, quarta e sexta, consecutivamente. Quando é possível rezar mais vezes na semana é sempre motivo de alegria”, completou. 

Para Mariluz, Maria é como uma mãe, que jamais a abandona: “Há uma imagem do rosto de Maria que habita em minha mente: é a imagem de seu rosto em um fundo azul, do tamanho de uma folha de papel sulfite A4. Lembro de quando me sentia desprotegida ou assustada, lembrava dessa imagem e me acalmava, sentia alguém me dizendo que estava tudo bem. Até hoje penso nessa imagem nesses mesmos momentos”. 

A CAMINHO DA ESCOLA

Grazielly Pereira Soares de Oliveira tem 14 anos e mora em Brasília (DF). Ela é coroinha há sete anos e participa do Encontro de Adolescentes com Cristo (EAC). “Eu não costumava muito rezar o Terço, lembro até de ficar chateada nas muitas vezes que minha mãe me chamava para rezar com ela, porém, sob a influência de uma amiga da igreja, que sempre me dizia que rezava o Terço antes de ir à escola, apaixonei-me por ele e costumo rezá-lo na parte da manhã, a caminho da escola. Como o caminho é rápido e não dá tempo de rezar o Terço todo, chego à escola e concluo meu rezar em frente ao Santíssimo Sacramento, na capela da minha escola”, contou. 

A adolescente contou à reportagem que começou pelo Terço da Misericórdia, que é mais rápido. Após ouvir uma pregação sobre os três pastorzinhos de Fátima e ter sido convidada a consagrar-se a Nossa Senhora de Fátima, ela passou a rezar o Rosário todos os dias. “No começo foi difícil e confesso que até hoje é um pouquinho complicado, mas, algo dentro de mim me deixa feliz quando rezo o santo Terço, nem que seja apenas um mistério, ou o Rosário todo. Meu maior sonho é ser como São Pio, um dos meus santos de veneração, e rezar mais de trinta terços por dia! Imagine quanto Nossa Senhora ficaria feliz e satisfeita!”, disse. 

Grazielly contou ainda que tem recebido muitas graças espirituais e que, por mais que seja muito jovem, sente-se chamada a falar para todos ao seu redor no que acredita. “Meditando os mistérios da vida de Nosso Senhor é como se eu estivesse lendo os evangelhos de forma simples. Já mostrei para colegas da escola e da igreja também quão bom é e quanto essa oração me aproxima de Deus e de Maria. Além disso, peço a Deus que mais católicos evangelizem por meio do santo Terço, a maior e mais poderosa arma que temos”, concluiu.

 

POR TODOS OS JOVENS DESESPERADOS

Agnese Ricciuto Conte, 73, mora em Foggia, na Itália, e conta que, durante a festa da Assunção de Nossa Senhora, em agosto de 2022, recebeu uma graça muito especial durante a reza do Rosário. 

“Estávamos rezando o santo Rosário e, antes da procissão do dia 15 de agosto, fizemos uma oração a Nossa Senhora por todos os jovens desesperados. No fim da procissão, um pouco antes dos fogos de artifício, senti uma voz que me dizia ‘Aconteceu uma graça’. Depois que levamos a imagem de Nossa Senhora de volta para o altar, senti novamente essa voz que me falava sobre a graça recebida. Um dia depois, liguei para uma pessoa para saber como estava e ela me disse: “Como posso estar? Minha filha está no hospital, porque tentou suicídio”. Então, perguntei quando tinha acontecido o caso e a mãe me disse que tinha acontecido no dia e horário exato em que rezei pelos jovens desesperados. A jovem tentou tirar a própria vida envenenando-se e foi encontrada a tempo de ser salva”, contou Agnese.

LIBERTAÇÃO E VIDA NOVA

Para Antônio Teixeira de Oliveira Júnior, 38 anos, encontrar um tercinho velho em suas coisas foi o sinal que faltava para que ele mudasse de vida. Hoje, ele mora em Brasília e participa do Ágape de Casais: uma comunidade de amor, grupo que promove a espiritualização e o desenvolvimento comunitário para casais, jovens e crianças na capital do país. 

“Embora meu pai tenha sido alcoólatra quando eu era pequeno fui criado num lar católico e conheci minha esposa dentro da Igreja. Comecei a servir ao Exército, logo me tornei tenente, casei-me aos 22 anos e consegui um patamar financeiro muito jovem. Minha esposa e eu abrimos uma distribuidora de bebidas e, na época, com muitos bens disponíveis, acabei me viciando em cocaína. Fiquei viciado durante dois anos e quando percebi que queria me recuperar do vício comecei a participar de igrejas evangélicas, mas, percebia que não era aquele o caminho e não conseguia parar”, contou Antônio, que além de ter perdido tudo o que conquistou estava muito magro e doente. 

“Quando minha filha nasceu, senti que precisava abandonar aquela vida e, então, achei um tercinho velho nas minhas coisas. Rezei e coloquei nas mãos de Nossa Senhora minha vida. Cada vez que eu sentia necessidade de usar a droga, rezava o Terço e, dessa, forma, consegui ir superando o vício”, disse. 

Hoje, ele e a esposa são pregadores em encontros e grupos para casais. “Cada vez que estou em frente ao Santíssimo Sacramento, agradeço a Deus que, por meio de sua mãe, salvou-me”. 

VOCÊ SABIA?

Santo Antônio Maria Claret, fundador dos claretianos, foi um propagador da devoção do Rosário e, por isso, recebeu o título de Apóstolo do Século XIX. “Pode-se dizer que o Rosário é um compêndio da nossa sacrossanta religião, porque consta de seus principais mistérios e quem o reza inteiro recorda e medita em um dia o que a Igreja celebra em suas festas no ano inteiro”, disse o santo. 

Ele foi beatificado em 1934 pelo Papa Pio XI e canonizado por Pio XII em 1950. Pelo seu amor ao imaculado coração de Maria e pelo seu apostolado do Rosário tem uma estátua de mármore no interior da Basílica de Fátima.

“Veneremos com amor filial a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, associada com todo coração à obra salvífica do seu Filho, quer com o culto litúrgico, quer com os exercícios de piedade recebidos da tradição, como o santo Rosário e outros semelhantes.” (Santo Antônio Maria Claret)

Nayá Fernandes

Jornalista

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