A pessoa de Jesus, na sua vida e missão, revela o verdadeiro sentido da vida, o verdadeiro sentido do amor, da liberdade, da paz. Revela qual é a verdadeira identidade do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus.
Maria é apresentada como aquela que faz a mudança na história da humanidade e no modo de entender a vida. No seu esforço penoso de entender Jesus, de segui-lo e ser “uma” com Ele, Maria expressa quem somos nós e a que somos chamados a viver. Viver é um desafio para todas as pessoas, para todas as culturas, raças, situações. Somos contínuos aprendizes da arte de viver com todas as suas belezas e seus desafios.
Desde a profecia de Simeão, quando José e Maria apresentam o Menino Jesus no templo, Maria acolheu a grande profecia: “Uma espada de dor transpassará tua alma” (Lc 2,35). Desde então, Maria viveu o mistério da desolação, da escuridão. Ela sofreu quando Jesus partiu para sua vida pública e a deixou em Nazaré, provavelmente viúva. Viveu o ápice da desolação ao pé da cruz, quando o Filho a entregou a João, seu discípulo amado.
Com seu sofrimento, Maria, a bendita entre as mulheres, a mãe da nova humanidade, a nova Eva, gerou a Igreja, o povo de Deus, a família dos novos filhos que nascem desse novo e definitivo parto ao pé da cruz. Assim, aquela lança da qual falava Simeão revelou o martírio permanente da mãe de Jesus e atinge seu ápice no Calvário. Quando uma lança de ferro transpassou o coração de Jesus na cruz, também transpassou a alma de Maria, atingiu seu coração.
Jesus precisou de Maria não só para nascer, mas também para morrer. Sentindo-se abandonado por Deus – no ápice da sua paixão –, Deus se dirigiu a Maria. Entregou o seu tesouro, esvaziou-se a si mesmo. Maria esvaziou-se a si mesma. No vazio, Deus preencheu seu coração com a compaixão, o amor que faz novas todas as coisas.
Depois da morte de Jesus, Maria continuou sofrendo. Recebeu seu filho morto nos braços, mais impotente que uma criança. Seu filho, Deus morto nos braços de uma dolorosa mulher de fé. Nesse momento, Maria tornou-se rainha. Mãe e rainha da família humana, peregrina nas estradas do sofrimento. Revelou a essência do amor: a alegria de viver e a coragem para sofrer.
Sua grandeza, equivalente à sua angústia, é fruto do sofrimento de ser mãe do Filho de Deus e sua discípula.
Maria, mãe do amor, é também a mãe da dor. A espada abriu seu coração com a chaga do coração de seu filho e reuniu toda a humanidade diante do Pai. Nesse momento de indescritível amor, de verdade suprema, de vida plena, a humanidade é reconduzida à sua fonte: Deus. Na regeneração nasceu a nova geração, pelo sangue, pelas lágrimas. Maria, a mãe do amor. Com ela, a humanidade renasceu. Com ela, a Igreja nasceu. O mistério continua se revelando, sobretudo na Eucaristia, na qual, pela fé, revivemos toda essa manifestação do amor de Deus.
“Mulher, eis o teu filho” (Jo 19,26): essas palavras podem parecer uma substituição, no entanto, são o momento no qual Maria restituiu a Deus a maternidade divina que Ele lhe tinha confiado. É o novo “sim” em conformidade e na plenitude do primeiro “sim” dado na anunciação. Com esse novo “sim”, Maria tornou-se, de maneira definitiva e clara, mãe de todos os seres humanos de todos os tempos, em Cristo.
“Ela esteve estreitamente unida ao seu filho, ofereceu-o ao Pai no Gólgota, fazendo holocausto de todo o direito materno e do seu amor materno. Aquela que, quanto ao corpo, era a mãe daquele que é a nossa cabeça, pôde tornar-se, quanto ao espírito, mãe de todos os seus membros”, afirmou o Papa Pio XII (Encíclica Mystici Corporis, 29 de junho de 1943).
“Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado na terra não morrer, permanecerá só, mas, se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24), disse Jesus falando de si antes da paixão. Se o Filho de Deus morria era para dar a vida a muitos filhos de Deus, ainda que o sejam de maneira diferente. Também Maria nos pagou. Em troca do Jesus, que doou, não pode receber muitos “Jesus” pela metade, mas outros “Jesus” autênticos com a sua luz e com o seu amor, iguais a Ele: “Ama-os como amaste a mim” (Jo 17,23).
Orígenes, que foi o primeiro a dar a Maria o título de Mãe dos Homens, além de Mãe de Jesus, disse: “Maria não teve outro filho senão Jesus e Jesus disse à Mãe: ‘Eis o teu filho’. Ele não disse ‘Este homem é o teu filho’, mas, ‘Este é Jesus que tu geraste’. De fato, quem é perfeito já não vive para si mesmo, mas nele vive Cristo; e visto que Cristo vive nele, dele se diz a Maria ‘Este é o teu filho, Cristo’ (Comentário ao Evangelho de João 1,6; p. 14, 32).
Nossa inteligência sempre será pequena diante de tal mistério. Nossa fé sempre será insuficiente para reconhecer a grandeza desse amor. Nossas vidas sempre serão imaturas perto de tão grande sabedoria do amor.
Vivamos cada dia louvando e agradecendo ao Senhor, revivendo Maria, nossa mãe, com simplicidade, acolhendo o mistério da nossa existência, acolhendo as dores e fazendo delas caminho para o amor.
“Assim vivemos Jesus, vivemos Maria. Vivemos Jesus em Maria. Vivemos Jesus vivendo Maria.” (Chiara Lubich, Como é bela Maria: meditações)