Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave Maria, começo nossa reflexão mensal de março com a proposta da Igreja por meio da Campanha da Fraternidade de 2022, sobre a temática “Fraternidade e educação” com o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). Diante da proposta lançada pela Igreja no Brasil somos chamados a pensar sobre a educação no contexto familiar mais do que na educação curricular, sobretudo nos questionando em relação aos modelos educacionais que encontramos em muitas famílias. Contudo, é importante compreender que não existe a melhor educação familiar ou a pior educação familiar, todavia, existem processos distintos de percepção em relação à educação e à sua absorção no contexto familiar. Outro fator importante é olhar a educação para além das instituições escolares e acadêmicas que cumprem o seu papel em relação ao conteúdo, isto é, à ciência, mas, não exercem o papel da educação familiar. Portanto, a família é a fonte primária de toda formação humana de uma pessoa.
É fato, precisamos de uma reflexão crítica sobre a prática educativa; sem essa reflexão, a teoria pode virar apenas discurso e a prática, ativismo e reprodução alienada. Existem diferentes educações familiares: críticas, progressistas, religiosas, conservadoras, dentre outras. Apesar dessas diferenças, todos necessitam de saberes comuns, tais como saber dosar a relação teoria e prática, criar possibilidades, produzir ou construir conhecimentos, reconhecer que ao ensinar se aprende, sendo esse posicionamento de grande importância.
As famílias devem mostrar que a teoria deve ser coerente com a prática, sobretudo os pais, que exercem esse protagonismo dentro de suas famílias em relação aos filhos, ou seja, sendo modelos e influenciadores: não seria convincente falar para os filhos que o alcoolismo faz mal à saúde e sua prática ser de tomar bebidas alcoólicas. Os problemas familiares surgem quando a prática não expressa a teoria. A prática educativa em si deve ser um testemunho rigoroso de decência e de pureza, já que nela há uma característica fundamentalmente humana: o caráter formador. Para isso, os pais devem se utilizar da materialização das palavras e ainda destacar a importância de propiciar condições de acolhida aos filhos, ou seja, demonstrando que pensam, comunicam-se, têm sonhos, que têm raiva e que amam. Isso desnuda os pais e permite que se rompa a neutralidade deles e assim acredita-se que a educação é uma forma de intervenção no mundo que não é neutra, nem indiferente, mas que pode implicar tanto a ideologia dominante como diferenciá-la. Do ato de ensinar dos pais exige-se comprometimento, sendo necessário que se aproximem cada vez mais os discursos das ações.
Os pais são os educadores por excelência dos filhos, isto é, a fonte primária de todos os conhecimentos, entretanto, não podem ser uma fonte absoluta.
Ao contrário, devem criar possibilidades para a produção ou construção do conhecimento pelos filhos. É importante que os pais entendam que ensinar não é transferir conhecimento ou condutas da tradição e da moral, mas criar as possibilidades para a própria produção ou a sua construção pelos filhos e que o conhecimento precisa ser vivido e testemunhado pelos pais. Portanto, os filhos são sujeitos e não apenas coadjutores da família, pois não devemos ver situações como fatalidades e sim ter estímulo para mudá-las. Os pais, como os primeiros educadores dos filhos, não devem inibir ou dificultar a curiosidade destes, muito pelo contrário, devem estimulá-la, pois dessa forma desenvolverão a sua própria curiosidade, sendo ela fundamental para evocarmos nossa imaginação, transformação e formação humana e religiosa.
Os ensinamentos dentro do contexto familiar devem estar centrados em experiências estimuladoras da decisão, da responsabilidade, ou seja, em experiência respeitosa da liberdade. Para isso, ao ensinar, os pais buscam ter liberdade e autoridade, sendo que a liberdade deve ser vivida em coerência com a autoridade. Os pais não podem ser imparciais em suas atitudes, pelo contrário, é indispensável nas relações mostrar sempre o que pensam, apontando diferentes caminhos, evitando conclusões, para que os filhos procurem o amadurecimento dentro do processo educacional que deve ser construído com sabedoria e amor.
Mesmo com todas as dificuldades para educar os filhos, isto é, condições de trabalho, salários baixos, descasos, falta de tempo, ausência de diálogo etc. ainda há muitos pais exercendo sua missão de maneira eficaz. Com certeza, isso se deve ao que a Igreja chama de vocação matrimonial ou familiar, que significa ter afetividade, respeito, amor, perdão, caridade, esperança e espiritualidade.