Automedicação: quando o diagnóstico sai da oficina

Suponhamos um cenário em que você finalmente comprou aquele carro dos seus sonhos. Não será mais preciso enfrentar longas filas no metrô para chegar ao trabalho ou se preocupar em perder o horário do ônibus. Todavia, num belo dia, o disco de embreagem apresenta um defeito grave e logo seu WhatsApp começa a chover mensagens do tipo “Basta arrancar de segunda que isso melhora”, “Dê uma olhada nesse videozinho sobre como trocar sua embreagem só com uma chave de fenda” ou “É só evitar estrada de chão”.

Curioso, não? Este, afinal, não é um texto sobre carros, então o que a embreagem de um automóvel teria a ver com a automedicação? Explico.

Quando algum de nossos bens materiais mais preciosos apresenta defeitos, corremos imediatamente a um especialista, ignorando a enxurrada de “soluções caseiras” que vemos na internet. Isso acontece porque sabemos que a divergência de opiniões de pseudoespecialistas pode piorar ainda mais o problema e causar danos irreversíveis ao objeto.

Por que, então, não usamos o mesmo critério com a nossa saúde, um dos maiores bens que possuímos? Se procuramos o mecânico para cuidar do carro, por que dispensamos a ajuda médica e recorremos à automedicação?

Os riscos dessa prática são muitos e graves: desde injúrias renais causadas por anti-inflamatórios até danos hepáticos provocados por interações medicamentosas de substâncias que competem pela mesma via de metabolismo. Medicando-se sem critério, o paciente não só corre riscos desnecessários como também pode agravar o quadro que busca resolver, algo facilmente evitável com uma consulta médica.

Na prática clínica, nós, médicos generalistas, frequentemente encontramos pacientes viciados em medicações “tarja preta” recomendadas por vizinhos ou pessoas que se entopem de antibióticos para tratar pequenos resfriados de origem viral, o que não apenas é ineficaz, mas contribui para a resistência bacteriana, um problema de saúde pública.

Cuidar da saúde exige responsabilidade. Assim como você não entregaria seu carro a qualquer curioso, lembre-se de que seu corpo merece ainda mais atenção. Não caia na armadilha da automedicação, procure sempre um profissional qualificado, afinal, a prevenção e o cuidado adequado são os verdadeiros caminhos para uma vida saudável e plena.

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