Um caminho de salvação e de recomeço

Percebemos na história do povo de Deus que os momentos de crise sempre foram acompanhados de chamados à conversão e ao recomeço. O autor do Livro de Crônicas, por exemplo, ao descrever o fim do reinado independente de Judá, oferece mais do que um relato histórico (cf. 2Cr 36,14-16.19-23), ele nos apresenta uma leitura teológica dos acontecimentos, na qual os fatos e suas consequências se entrelaçam com a ação divina. Deus está sempre presente, em tudo e em todos. O exílio, cumprimento da profecia de Jeremias, é interpretado como um verdadeiro “ano jubilar” para a nação, um tempo de renovação e purificação. A responsabilidade pelo ocorrido recai sobre as lideranças que falharam em ouvir a voz dos profetas, enchendo a taça da ira divina, entretanto, mesmo no momento mais sombrio Deus oferece ao seu povo uma nova oportunidade de recomeço. É o toque de misericórdia que restaura, que traz uma chance de renovação.

Em sintonia com esse chamado à renovação, São Paulo, quando escreve aos Efésios, ensina que a onipotência divina se manifesta de maneira incomparável nas nossas vidas (cf. Ef 2,4-10). Deus, por sua graça, venceu dois grandes obstáculos: o pecado que aprisiona toda a humanidade e a inimizade entre judeus e pagãos. Em Cristo, Deus nos oferece uma nova vida, uma nova possibilidade. A ressurreição do Senhor, de fato, é a garantia de nossa própria ressurreição. O cristão, embora viva ainda nesta Terra, já é um cidadão do Céu, partícipe da graça divina que nos transforma e nos leva à plenitude da vida. A obra de Cristo é, sem dúvida, a nossa redenção.

Recordemos o Evangelho de João, que faz uma releitura da história da salvação (cf. Jo 3,14-21). Ele nos apresenta Jesus como o novo libertador, aquele que, assim como Moisés, ergueu a serpente no deserto para salvar o povo e do alto da cruz oferece a verdadeira salvação. O amor de Deus é demonstrado de forma única na entrega do seu Filho, Jesus, para que, pela fé, possamos ser salvos e alcançar a vida plena. Para João, a vida eterna não é algo que se espera apenas para o futuro, mas é um presente que começa agora, na experiência da fé. Crer em Jesus é andar na luz, viver em plenitude e ter como destino único a salvação. A fé nos coloca no caminho da verdadeira vida, enquanto a falta dela nos conduz a um caminho de trevas e morte espiritual.

Neste mês de março, ao refletirmos sobre essa caminhada de fé rumo à salvação, neste tempo propício, somos chamados a voltar os olhares para nossas próprias vidas e perceber as oportunidades de recomeço que Deus nos oferece, como nos ensina a autora Célia Alves Cardoso na obra Os recomeços de Deus, publicada pela Editora Ave-Maria. Percebamos que a fé, que nos une a Cristo, é a chave para acessar essa nova vida, que não se limita ao futuro, mas transforma o nosso presente. Em um mundo marcado por incertezas é essa fé que nos dá a esperança, que nos mantém firmes na luz e nos garante a salvação.

Que neste tempo de reflexão e renovação possamos responder ao chamado divino com confiança e abertura, permitindo que a graça de Deus nos conduza por caminhos de luz, de vida e de verdadeira liberdade em Cristo Jesus.

NOTAS MARIANAS

Mistérios da dor

São um convite a contemplar a Deus, que se rebaixa por amor “até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8), Jesus como Deus terno e misericordioso que se entrega em favor dos homens: “Os mistérios da dor levam o crente a reviver a morte de Jesus pondo-se aos pés da cruz junto de Maria, para com ela penetrar o abismo do amor de Deus pelo homem e sentir toda a sua força regeneradora” (Rosário da Virgem Maria, 22). É costume rezá-los às terças e às sextas-feiras.

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