O mês de novembro mexe com o emocional do povo de fé por causa de dois dias: Finados (em que fazemos memória de nossos entes queridos falecidos) e a Festa de Todos os Santos. Para a Igreja, comunidade do povo de Deus, movida pela fé e esperança, essas duas datas se entrelaçam, impulsionadas por duas virtudes teologais.
“A fé é o fundamento da esperança, uma certeza a respeito do que não vemos”, diz-nos o autor da Carta aos Hebreus (11,1). É exatamente isso que nos propõe a Festa de Todos os Santos: crer em Deus, mesmo com a certeza da morte, viver da esperança de que a morte não mais tem a última palavra sobre nós e nutrir essa expectativa, afinal, o antigo adversário foi vencido na cruz quando o Senhor pagou uma dívida, antes impagável.
Viver dessa esperança significa buscar ser santo no cotidiano, de maneira perseverante e constante. Precisamos, para tal, do estado de graça que os sacramentos nos conferem e da constância na vida de oração e comunhão, excelentes armaduras do cristão (cf. Ef 10,10-18). Também se faz necessário ter bem claro que a santidade nos leva para o Céu, para a vida que não termina com a morte e que, sendo assim, seu conceito apresentado pela igreja é algo atingível e humanamente possível!
São Carlo Acutis, por exemplo, veio nos apresentar um jeito jovem de viver santamente, tornando o Céu mais próximo de nossa realidade. Ele nos mostrou que a internet pode ser um meio de santificação de vida, de comunicação saudável, de evangelização e que não é terra de ateus, de superficialidades tão somente, pois um jovem se santificou fazendo bom uso dos meios de comunicação, portanto, nada de demonizar tudo que este mundo pós-moderno nos apresenta, porque no meio do joio há o trigo (cf. Mt 13,24-30).
Outro santo, anterior a Carlo, mas também muito conhecido por nós, São João Paulo II, o Papa da família, dos jovens, apresentou-nos a santidade como um estilo de vida. Dizia ele: “O santo é o pecador que nunca desiste de recomeçar”. De fato, ao nos afirmar isso, o santo Papa nos recordou que o santo é alguém ferido pelo pecado, machucado, mas regenerado pela misericórdia de Deus, que é maior do que o perdão propriamente dito (cf. TORNIELLI, Andrea. O nome de Deus é misericórdia). Para ele a perseverança é sinal de santidade, assim, cair e levantar, não desanimar nunca diante dos próprios pecados, não desistir de erguer-se, acreditar piamente na eficácia do sacramento da reconciliação e recomeçar sempre… eis o santo de nosso tempo!
Ao ler e ouvir isso, sentimos um ímpeto de que é possível, sim, pois a santidade não é um estágio de perfeição, tampouco um status, ela está ao alcance de nossas mãos, de nossas possibilidades humanas, afinal, Deus chama homens e mulheres à santidade e não anjos. Ao nos chamar à vida de santidade, o próprio Criador pressupõe nossa natureza e o que ela possui de genuíno: os sentimentos, bons e ruins, a concupiscência, que nos tende ao mal, as oscilações, próprias de nossa condição. Enfim, Deus sabe quem somos e sabe também o que podemos ser.
Por conseguinte, olhando para esses dois santos, para o Evangelho de Jesus, que chamou tantos a partir de sua realidade, celebremos o Dia de Todos os Santos sabendo a verdade mais confortadora de todas: é possível, sim!