A frase “A esperança não decepciona” (Rm 5,5) é a essência da Esperança Teologal. É um dos pilares fundamentais da antropologia cristã. É diferente da esperança do mundo, que é incerta; a Esperança Teologal é uma virtude dada por Deus à alma do batizado, junto à fé e à Caridade. É uma posição ativa, confiante, consciente da misericórdia de Deus e do Seu amor infinito. A Esperança Teologal não é simplesmente otimismo, mas a âncora da alma (Hb 6,19) que penetra nosso espírito e nos faz seguir adiante.
O coração humano tem desejo de felicidade e perfeição, e isso só pode ser alcançado em Deus. A esperança é a virtude que direciona esse anseio para o único objetivo cristão: o Reino de Deus e a Vida Eterna. Os cristãos não fundamentam sua esperança nas coisas do mundo nem nas pessoas deste mundo, mas nas promessas de Cristo Jesus. A esperança do cristão não se fundamenta em seus próprios méritos, mas na promessa verdadeira de Cristo: “onde eu estiver, vós estejais também” (Jo 14,3). A ressurreição de Cristo prenuncia a de todos os cristãos. Quem sustenta a Esperança dos cristãos é o Espírito Santo. Sem o auxílio do Espírito Santo, sozinho, o cristão fica à mercê do desânimo e do ceticismo.
A Caridade é como um alimento. Só a Caridade torna essas promessas desejáveis e nos dá força para caminhar em sua direção. A Esperança Cristã é a certeza da vitória final de Deus sobre o pecado e a morte.
Vivemos numa era de incertezas, ansiedade, grandes mudanças e crises múltiplas — como a ambiental, a social e a existencial. Esperar em Deus não é uma fuga do mundo, mas um modo transformador de ver a realidade. As notícias negativas, as injustiças e os fracassos podem nos levar a um alto nível de ansiedade ou desespero, ou ainda ao cinismo. Pensa-se, às vezes, que não adianta nada, que nada é verdadeiro, que nada tem sentido.
A Esperança nos lembra que a história da humanidade sempre esteve nas mãos de Deus e que Ele dará a ela um final glorioso. Mesmo quando não vemos saída, é preciso confiar em Deus, que levará tudo a bom termo. Isso não quer dizer que devemos ser passivos — nada disso. Devemos ser serenos na ação, porque o resultado final não depende de nós, mas da graça de Deus.
Muitos de nós são extremamente ansiosos e imediatistas. Devemos suscitar a cultura da paciência, não do “agora”, que nos traz profunda ansiedade e adoecimento. A Esperança é paciente e perseverante. O Reino de Deus está entre o “para já” (já foi inaugurado por Jesus) e o “ainda não” (o Reino em plenitude). Devemos nos libertar da escravidão do urgente, para que possamos trabalhar com constância, certos de que “aquele que começou a boa obra em vós há de levá-la à perfeição até o Dia de Cristo Jesus” (Fl 1,6).
O relativismo e o materialismo podem nos levar a uma sensação de que nada faz sentido. É o vazio interior que nos pergunta: “Para que vivemos? O que vem depois?” A Esperança dá sentido à nossa existência. Ela nos lembra que a vida é uma peregrinação em direção ao Céu, e não ao vazio. O sofrimento oferecido, os atos de amor e os gestos de fé ganham um valor eterno e enchem a vida cotidiana de significado — que transborda e transcende.
A Esperança não decepciona porque brota do coração de Cristo Crucificado, que se entregou à morte para nos salvar. Nestes tempos, a Esperança é um ato de resistência espiritual e coragem de crer na luz que vence as trevas — de crer que a transformação vem de dentro para fora, que a última palavra não é do mundo, mas do Amor, de Deus.