Neste novo mês somos chamados a contemplar o mistério de um reinado que desafia e supera as lógicas deste mundo. Uma festa que encerra o ano litúrgico não com triunfalismo, mas com o convite a refletir sobre o Reino que Jesus inaugurou: um reinado da justiça, da paz e do serviço.
Podemos observar, nas Sagradas Escrituras, Davi sendo reconhecido como rei de Israel. Ele é apresentado não como alguém que domina à força, mas como aquele chamado por Deus a apascentar, a cuidar do povo como um pastor cuida das ovelhas. Essa imagem ecoa diretamente no Evangelho quando encontramos Jesus na cruz, coroado pela humilhação e pelo desprezo humano, mas elevado por sua entrega total. Ali, no ato final de sua paixão, Jesus revela um reinado que se estabelece não pelo poder das armas, mas pelo poder do amor.
O que significa, então, proclamar Cristo Rei em um mundo que tantas vezes valoriza o autoritarismo, o individualismo e a lógica da competição? O Reino de Cristo não é um reino de dominação, mas de serviço. Ele não impõe; antes, convida. Ele não exclui; antes, acolhe. Sua autoridade não nasce da força, mas da doação.
A celebração desse reinado aponta para um caminho de conversão. Como Igreja e como indivíduos somos constantemente desafiados a escolher entre os caminhos de Jesus e os caminhos do mundo. O modelo de “poder-serviço” proposto por Cristo implica a delicadeza de escutar, a humildade de caminhar junto e a coragem para construir uma sociedade mais justa e fraterna. É um chamado à sinodalidade, esse estilo de ser Igreja que valoriza a escuta mútua e a participação de todos no discernimento e na missão.
Nesse sentido, o mês de novembro nos recorda a importância de vivermos os valores do Reino em nossas vidas cotidianas. Quando rezamos “Venha a nós o vosso Reino” pedimos por essa transformação interna que começa em nossos corações e transborda em nossas relações. Novembro, com suas datas marcantes como o Dia de Todos os Santos e a Comemoração dos Fiéis Defuntos, é um mês que nos convida a olhar além do presente, para a promessa de vida eterna que se inaugura na cruz – essa cruz que se transforma, em Cristo, no trono do verdadeiro Rei.
O reinado de Cristo também ilumina nossa relação com o próximo e com a criação. Entre tantas crises que marcam nosso tempo – exclusão social, desigualdades, destruição ambiental – somos convidados a viver como cidadãos do Reino, assumindo posturas de cuidado e responsabilidade. O que seria do planeta se vivêssemos, de fato, como Jesus nos ensinou? O que seria da humanidade se a lógica do “servir”, em vez do “dominar”, guiasse nossas escolhas?
O diálogo entre Jesus e o bom ladrão no Evangelho de Lucas (cf. 23,39-43) é uma chave preciosa para compreendermos o hoje da salvação. Na cruz, Jesus oferece perdão e acolhida, tornando o momento mais sombrio em um sinal luminoso da esperança divina. Assim como aquele homem também nós somos chamados a deixar para trás nossos erros e a olhar para a frente, em direção ao Reino. Não importa o que ficou no passado: hoje, agora mesmo, é tempo de conversão e de encontrarmos no amor de Jesus o caminho para a vida em plenitude.
Que este mês de novembro inspire em nós a coragem de viver pelo Reino. Que possamos olhar para a cruz de Cristo e descobrir nela um convite irrecusável: seguir o Rei que não domina, mas serve; que não impõe, mas ama; que não exclui, mas inclui. Cristo Rei não é um soberano distante, mas um pastor que caminha conosco, conduzindo-nos a um horizonte de vida, fraternidade e paz.
Que sua celebração nos leve a ser instrumentos desse Reino em nosso mundo tão carente de amor e justiça.
NOTAS MARIANAS
Nossa Senhora de Guadalupe
A devoção a Nossa Senhora de Guadalupe remonta ao ano de 1523, quando ela apareceu para o índio asteca Juan Diego e lhe pediu que construísse no local da aparição uma capela em sua honra. Diante da descrença das autoridades eclesiásticas, a Virgem pediu que o piedoso índio recolhesse algumas flores silvestres e as levasse envolvidas em seu manto ao bispo. Quando o bispo abriu o manto, revelou-se a imagem da Virgem, conhecida hoje como Virgem de Guadalupe.