Vivemos na era da comunicação. Em alguns casos, excessiva, tamanha ligação com alguns de seus meios. Os jovens que o digam! Nós mesmos, se ficamos uns dias sem acesso às redes sociais, sentimo-nos deslocados. As crianças trocam bonecas e carrinhos por celulares, com todas as consequências que daí decorrem.
Uma tendência na pastoral é seguir esse mesmo esquema comunicacional. Hoje parece trabalhoso demais manusear uma Bíblia. Preferimos confiar em líderes influenciadores religiosos, que nos dão o Evangelho do dia e a mensagem pronta.
Convido todos a fazermos um retrocesso na história: voltarmos duzentos anos, tempo em que viveu Santo Antônio Maria Claret, bispo e fundador dos Missionários Claretianos (1807-1863).
Nessa época, a comunicação dependia de reunir multidões nas celebrações em festas especiais ou na presença de algum pregador de prestígio. O pregador se colocava em um lugar elevado para que sua voz chegasse a todos, sem os recursos da ampliação do som. O pregador era conhecido por seu ardor, vivacidade na pregação e pela capacidade de envolver os ouvintes no tema abordado. O ardor missionário em Santo Antônio Maria Claret procedia do seu amor a Jesus Cristo e o desejo profundo de levar a rodo o povo a salvação.
Claret definia o missionário como alguém que “arde em caridade e abrasa por onde passa”. Na verdade, a definição procede da própria experiência de vida: ele mesmo ardia em caridade e abrasava por onde passava.
Ele alimentava seu ardor missionário pela leitura diária da Palavra de Deus. Chegou a deixar para a posteridade uma verdadeira chave, uma proposta, uma maneira de ler a Bíblia toda. O que percebemos em Claret é um verdadeiro apaixonamento pela Palavra. Sua leitura pessoal dela o motivava, estimulava e fazia arder na caridade amorosa; era também uma leitura vocacional, no sentido de confirmação da vocação e do agir profético.
O ardor missionário era também alimentado pelo desejo sincero e radical de doar sua vida a serviço dos demais, sem excluir a possibilidade do martírio, tanto é que, ao sofrer um atentado em Holguín (1856), Cuba, seu coração sentia um consolo espiritual por ter derramado ao menos parte de seu sangue pela causa de Cristo.
Ardor alimentado por um profundo amor à Eucaristia, que fez dele um “sacrário vivo”, carregando em seu peito o Cristo eucarístico de uma comunhão a outra; isso o fazia estar em constante contemplação a Ele, graça especialíssima, poucas vezes encontrada na literatura cristã.
O ardor missionário de Claret tem dimensão e sensibilidade feminina: reflete-se no terno amor a Maria, mãe de Jesus, a ponto de incluir o nome Maria em seu próprio nome e de dar às congregações por ele fundadas nomes marianos: Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria e Missionárias Religiosas de Maria Imaculada – Missionárias Claretianas.
Na trajetória biográfica de Claret, percebemos um grande número de iniciativas fundacionais: Irmandade da Instrução e da Doutrina Cristã; Casa de Caridade; Academia de São Miguel; escrita de inúmeros livros, folhas avulsas, inumeráveis sermões, tudo com a finalidade de dar vazão ao seu ardor missionário.
Como homem da Palavra e da Eucaristia, seu ardor missionário o impelia a fazer o máximo que podia para que a salvação chegasse a um número maior possível de pessoas. Seu pensamento e atuação pastoral sempre estiveram ligados à ideia de evangelização em grupo ou em comunidade. Não bastava evangelizar com as próprias forças; Claret almejava sempre buscar colaboradores para ampliar sua atuação.
Que o ardor missionário de Claret seja um estímulo para que vivamos também um ardor sempre crescente como testemunhas e servidores da Palavra, alimentados pela Eucaristia e inflamado no amor materno de Maria!